AGENDA CULTURAL

20.12.23

Benedita Fernandes foi ao cinema


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Ex-secretário municipal da Cultura de Araçatuba

Domingo, houve matinê no antigo Cine Peduti Araçatuba, na rua General Glicério, quando passou o filme “Benedita, uma heroína invisível. O legado de uma superação”, baseado no livro do escritor Antônio César Perri de Carvalho: “A dama da caridade”, membro da Academia Araçatubense de Letras. 

Matinê era a sessão da tarde nos cinemas beira de calçada. Bandeirantes, São Francisco, São João, Paraíso e Peduti eram cinco cinemas de Araçatuba, todos da empresa Peduti.  

No cine Bandeirantes, rua Osvaldo Cruz, era o ponto quente das matinês, onde a meninada  também trocavam gibis. Nesse domingo, 17/12/2023, não era exibido filme de Tarzan, mas a protagonista era uma heroína: Benedita Fernandes.

Vivemos com o filme um momento histórico: ver a matinê funcionando no Cine Peduti Araçatuba. O filme apresentou a biografia de uma personagem da história de Araçatuba: Benedita Fernandes.

Senti-me incluído nas duas vertentes do evento. Eu, jovem adolescente, assisti ao primeiro filme projetado no cine Peduti Araçatuba: a noviça rebelde”, em 1967. A novidade era o seu luxo, comprar ingresso antes e as cadeiras eram numeradas. Se viva Benedita Fernandes não estaria na inauguração porque era muito pobre, mas superação foi tamanha que entrou para ser uma personagem da tela.

Araçatuba é uma cidade em que há muitas entidades dirigidas pelos espíritas, que são muito respeitados pela população de outros credos. Isso se deve à presença de Benedita Fernandes na história do município. 

Outro fato que marcou o espaço é que o Cine Peduti Araçatuba fora fechado, encerrando suas atividades. Apresentou o último filme “A vingança do mosqueteiro”, em 30/04/2002. Cinema passara a ser atividade de shopping; mas Chaim Zaher, atendendo ao apelo de Araçatuba, principalmente do mundo cultural, comprou o prédio, tornando-o um centro cultural, impedindo o desvio de finalidade.

A homenagem a Benedita Fernandes me agrada muito, pois se trata de uma mulher, negra, pobre e tida como louca. A exemplo da biografia de Machado de Assis, essa mulher tinha tudo para ser uma cova anônima num cemitério qualquer. Ao contrário, Machado é um brilhante escritor, e Benedita, uma personalidade histórica de Araçatuba.

E a cada ano, Benedita assoma o seu vulto de grandeza pelo seu legado de ensinamentos e obras. Com sua simplicidade e perseverança ultrapassou suas limitações. A sua biografia encanta a todos.

Os presentes quase lotaram os 700 lugares do Centro Cultural Thathi-COC. Estavam na plateia o escritor César Perri, atores, roteirista Sirlei,  diretor Samuel Laluce. A secretária municipal de Cultura Tieza enalteceu o filme em seu discurso. Até a gostosa pipoca compareceu. 

O filme financiado pela Secretaria Municipal de Cultura de Araçatuba (Fundo Municipal de Cultura) é um exemplo de que podemos resgatar os heróis populares de nossa gente. Com certeza, foi uma tarde de forte emoção.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Ex-secretário municipal de Cultura.

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