Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Ex-secretário municipal da Cultura de Araçatuba
Domingo, houve matinê no antigo Cine Peduti
Araçatuba, na rua General Glicério, quando passou o filme “Benedita, uma
heroína invisível. O legado de uma superação”, baseado no livro do escritor
Antônio César Perri de Carvalho: “A dama da caridade”, membro da Academia
Araçatubense de Letras.
Matinê era a sessão da tarde nos cinemas
beira de calçada. Bandeirantes, São Francisco, São João, Paraíso e Peduti eram
cinco cinemas de Araçatuba, todos da empresa Peduti.
No cine Bandeirantes, rua Osvaldo Cruz, era o
ponto quente das matinês, onde a meninada
também trocavam gibis. Nesse domingo, 17/12/2023, não era exibido filme
de Tarzan, mas a protagonista era uma heroína: Benedita Fernandes.
Vivemos com o filme um momento histórico: ver
a matinê funcionando no Cine Peduti Araçatuba. O filme apresentou a biografia
de uma personagem da história de Araçatuba: Benedita Fernandes.
Senti-me incluído nas duas vertentes do
evento. Eu, jovem adolescente, assisti ao primeiro filme projetado no cine
Peduti Araçatuba: a noviça rebelde”, em 1967. A novidade era o seu luxo,
comprar ingresso antes e as cadeiras eram numeradas. Se viva Benedita Fernandes
não estaria na inauguração porque era muito pobre, mas superação foi tamanha
que entrou para ser uma personagem da tela.
Araçatuba é uma cidade em que há muitas
entidades dirigidas pelos espíritas, que são muito respeitados pela população
de outros credos. Isso se deve à presença de Benedita Fernandes na história do
município.
Outro fato que marcou o espaço é que o Cine
Peduti Araçatuba fora fechado, encerrando suas atividades. Apresentou o último
filme “A vingança do mosqueteiro”, em 30/04/2002. Cinema passara a ser
atividade de shopping; mas Chaim Zaher, atendendo ao apelo de Araçatuba, principalmente
do mundo cultural, comprou o prédio, tornando-o um centro cultural, impedindo o
desvio de finalidade.
A homenagem a Benedita Fernandes me agrada
muito, pois se trata de uma mulher, negra, pobre e tida como louca. A exemplo
da biografia de Machado de Assis, essa mulher tinha tudo para ser uma cova
anônima num cemitério qualquer. Ao contrário, Machado é um brilhante escritor,
e Benedita, uma personalidade histórica de Araçatuba.
E a cada ano, Benedita assoma o seu vulto de
grandeza pelo seu legado de ensinamentos e obras. Com sua simplicidade e
perseverança ultrapassou suas limitações. A sua biografia encanta a todos.
Os presentes quase lotaram os 700 lugares do
Centro Cultural Thathi-COC. Estavam na plateia o escritor César Perri, atores,
roteirista Sirlei, diretor Samuel
Laluce. A secretária municipal de Cultura Tieza enalteceu o filme em seu
discurso. Até a gostosa pipoca compareceu.
O filme financiado pela Secretaria Municipal
de Cultura de Araçatuba (Fundo Municipal de Cultura) é um exemplo de que
podemos resgatar os heróis populares de nossa gente. Com certeza, foi uma tarde
de forte emoção.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e
escritor. Ex-secretário municipal de Cultura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário