Na apoptose, as células se enrugam, como maracujá na fruteira, e vai perdendo fragmentos como se estivesse despetalando, como uma flor!
A ciência ensina que viver é uma luta diária contra os números. É biologia versus matemática. Cada dia deve ser comemorado de forma apoteótica e apoptótica, pois representa uma vitória sobre o câncer que tenta aparecer em nós, quase todos os dias, em qualquer idade. No final da tarde, poderíamos cantar a música “Paciência” todos os dias e, ao acordarmos, uma outra canção “Simples Assim”, ambas do maravilhoso Lenine.
Apoteose é glorificação, homenagem grandiosa e
cena final de mágicas espetaculares. Apoptose é perder as
pétalas e desfolhar-se como as flores para dar lugar ao fruto e também acontece
quando nossas células têm tudo para virar um câncer, mas se desfazem tal qual a
rosa em suicídio espetacular para nos salvar. Compreender a apoptose é
apoteótico!
Temos 206
tipos de células em um conjunto de 10 trilhões. Cada uma se divide em duas a
todo momento. É inevitável que diariamente algumas saem com defeito, vai
funcionar errado e dará origem a duas células aberrantes, bizarras, atípicas ou
podemos dizer cancerosas, mal-humoradas, feias, ruins, enfim malignas.
Todo dia aparecem
células bizarras e teríamos câncer se o organismo não tivesse mecanismos para
eliminá-las. As células atípicas são induzidas ou “convencidas” a se suicidarem
pelas demais, em especial as células NK e imunológicas. Ao acionarem o gene da
morte programada (ou gene p53) nas células atípicas, elas se fragmentam em
pétalas e folhas cadentes, o que em grego se chama apoptose! As que escapam do
suicídio, são perfuradas por substâncias poderosas das células imunológicas e
NK, e explodem com a pressão interna positiva. Uma dessas substâncias se chama
“perfurina”.
MUDEMOS E POR
QUÊ?
Estresse
psicológico, alimentação inadequada, pesticidas, drogas, radiações, álcool,
tabaco, sedentarismo e vírus aumentam muito o número e a chance de
sobrevivência de células defeituosas em nosso corpo no dia a dia. As pessoas
justificam seu estilo de vida dizendo que “a vida não para” e eu digo que não é
esta a frase, e sim que “a vida é tão rara”, cultivemos a paciência. Por esta e
outras razões, que esta frase popular tem coerência: “quem tem pressa, quer
morrer logo”!
As células
atípicas não obedecem as regras do manual de instruções do corpo. Proliferam e
se nutrem alucinadamente em um ritmo maluco e invasivo, destruindo as áreas
vizinhas e viajando a distância para novos focos denominados de metástases.
Cada célula
pode dar origem a vários tipos de câncer por causas diferentes. Quando se fala
câncer, engloba-se um grande número de doenças diferentes. O ponto comum: a
proliferação desordenada e acelerada de células. Prioriza-se estudar as causas,
o comportamento biológico e tratamento dos tipos que afetam um maior número de
pessoas. Os raros ficam, infelizmente, em segundo plano.
QUATRO REFLEXÕES
1. Quantas células atípicas foram mortas pelos
mecanismos de defesa em cada ano de sua vida? Por isso, brindemos todos os dias
vividos, valorizemos as coisas simples e boas, paremos de reclamar, elogie mais
e fale mais de ideias alegres. Inteligente é ser feliz e siga o que diz a
música: a vida é tão rara!
2. Sempre procurei ser assim, seguindo o meu lindo
pai Luiz que dizia: vai à luta, olhe sempre para frente. Desta forma sempre
consigo vislumbrar mais sonhos, alegrias e desafios no horizonte. E vou ao
encontro deles!
3. Em 10% dos casos, o câncer é hereditário, mas os
demais você pode evitar ao modelar a sua forma de viver, de se alimentar e de
procurar entender qual o motivo de sua estadia por aqui. O autoconhecimento é
um incrível agente anticâncer, reflita sobre isto.
4. Por fim, afasta o câncer de você, comemorando com alegria a vitória de todos os dias das nossas células sobre as pretensas cancerosas.
Professor Titular da USP
FOB de Bauru
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