AGENDA CULTURAL

14.7.16

Queda "dos Anjos"

(fotografia meramente ilustrativa)
Hélio Consolaro*

“O pintor Luiz Antônio dos Anjos, 46 anos, morreu na manhã desta sexta-feira (8) após cair do oitavo andar de um prédio em construção, no bairro Morada dos Nobres, em Araçatuba. O acidente aconteceu quando ele estava a uma altura de cerca de 20 metros.

Segundo a empresa Tecol, responsável pelo empreendimento, ao iniciar suas atividades de pintura externa, como de costume, Anjos amarrou seus equipamentos de segurança na estrutura de sustentação do prédio e, ao descer, o nó dado à corda guia e à de sustentação do balancim se desfez, gerando a queda” (jornal O LIBERAL, 8/7/2016).

O nome era dos Anjos. Ganhava a vida pintando as cidades, ou melhor, construía as cidades, deixando-a com arranha-céus. Não era um artista plástico, era apenas um pintor, mas fazia a plástica nas paredes para receberem lindos quadros.

O sobrenome “dos Anjo” nunca foi um sobrenome de peso aqui entre nós com pés ficados na terra. A Terra não era justa com “dos Anjos”

Ao noticiar a sua queda do 8.º andar, a imprensa informou que ao voar usava todos os equipamentos de segurança que determinava a lei, apesar de anjo, não acreditava muito nas suas asas. Ou acreditava, por isso não se amarrou bem. Não sei, só ele sabe o que aconteceu.

Não sei se vai merecer um voto de pesar da Câmara Municipal ou se o prefeito da cidade determinou a colocação das bandeiras a meio pau. Mas isso é coisa de somenos, com certeza, os anjos do céu esperavam-no e quando chegou, as trombetas soaram em homenagem à sua recepção. Houve até arautos.

Não conheci "dos Anjos" em vida. Não sei se tinha casa, pelo menos uma casinha no programa “Minha Casa, Minha Vida”. Certamente era como o cidadão da música de Lúcio Barbosa, construía escolas, mas o filho não podia estudar lá.

A minha frustração, Luiz Antônio, por não termos construído a justiça entre nós. “Dos Anjos” pode ser um sobrenome não tão importante por aqui, mas, com certeza, fora recebido com festa lá no céu. Nosso consolo é este: sofrer aqui na Terra para ser rei no céu. Não se vive sem sonhar.


*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras.

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