AGENDA CULTURAL

26.8.06

Ser caxias

Hélio Consolaro

O boteco Bate Forte estava repleto de barrigudinhos nesta sexta-feira, Dia Nacional da Cerveja. Faca Amolada e Canela Louca, esbaforidos, atendiam aos pedidos aos gritos:

- Uma quadrada, aqui, pro degas!

Seu Sugiro gritava da calçada:

- Sugiro espetinhos de filé miau!

E os pedidos choveram para contentamento do japonês churrasqueiro.

Magrão se lembrou que era 25 de agosto, quando se homenageia Duque de Caxias. E levou o assunto para o caxiismo.

Burguês perguntou ao Dr. Duas Caras, ainda sóbrio, que achava do caxiismo, esse negócio de fazer tudo certinho.

Com toda a empáfia, Dr. Duas Caras repetiu o sociólogo Gilberto Freyre, autor de Casa Grande & Senzala:

- Os caxias devem ser tanto paisanos como militares. O caxiismo deveria ser aprendido tanto nas escolas civis quanto nas militares. É o Brasil inteiro que precisa dele.

Todos os barrigudinhos aplaudiram de pé a palestra do Dr. Duas Caras.

Bicho Grilo mostrou uma foto de um bar estrangeiro, um correlato do Bate Forte, meio reservado aos barrigudinhos da terceira idade: bar Paul Mole.

- Nesse bar eu não entro! – disse o Sr. Lamentáveis, septuagenário do Bate Forte. Ainda dou três por semana!

Gargalhadas gerais. Pá de cá, pá de lá, e Burguês fez a mesma pergunta ao Dr. Duas Caras, depois de três cervejas na cara:

- O Duque de Caxias é indigno do substantivo caxiismo que derivou de seu nome! Ele foi mesmo o comandante do genocídio americano, praticado na Guerra do Paraguai!

E continuou:

- Não seja caxias! Aliás, barrigudinho que freqüenta o Bate Forte não pode ser caxias nunca!
Miltão discordou:

- Eu sou caxias!

- Um sujeito que é parasita do poder público é mesmo parecido com o Duque de Caxias – respondeu Dr. Duas Caras.

Miltão foi de braço sobre o advogado, criou-se um rebuliço. Faca Amolada gritou:

- Rodada por conta da casa!

E todos riam e gargalhavam. De copos cheios, claro.

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