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Hélio Consolaro
O boteco Bate Forte estava repleto de barrigudinhos na sexta-feira, Dia Nacional da Cerveja. Faca Amolada e Caneta Louca corriam esbaforidos, atendendo aos pedidos que vinham aos gritos:
- Uma cerva bem gelada aqui pro degas!
- Uma porção de amendoim salgado!
Seu Sugiro gritava lá da calçada:
- Sugiro espetinho de filé miau!
E os pedidos choviam, para alegria do japonês churrasqueiro.
Dona Assunta administrava a cozinha, Amelinha ficava na caixa, mais marcando do que recebendo.
Burguês chegou cantando o Lula-lá e dizendo:
- Deixa o homem trabalhar!
Miltão, alckmista, não deixou por menos:
- O homem nunca trabalhou!
Gordo acrescentou:
- Se com nove dedos, o homem fez o que fez, imagine se tivesse os dez! Queremos mais honestidade e ética!
Subversivo, meio debilitado ainda, apareceu sob a condição de não beber, mas assim mesmo predominou sua sóbria radicalidade. Chutou o pau da barraca:
- A falta de um dedo na mão do presidente é a prova de como a burguesia explora a classe trabalhadora, inclusive mutilando as pessoas no trabalho.
Vozerio geral. E as indignações vinham nadando nos copos de cerveja. Palhaçada! O cara inteligente, mas é do mal. Povo burro! Foi o melhor presidente que o Brasil já teve!
De repente, escuta-se a queda de um corpo. Subversivo não resistiu, entrou e pegou uma garrafa no balcão. E estava estatelado no chão.
Magrão, que não é gente, simulou o enterro e a visita dos barrigudinhos ao túmulo de Subversivo na quinta-feira, Dia de Finados. Em vez de castiçais, cercou o corpo por garrafas vazias.
Miltão disse que aquilo não era brincadeira que se fizesse com um amigo, chamou a ambulância que levou Subversivo com todas as sirenes ligadas.
Faca Amolada gritou:
- Rodada por conta da casa!
Mas era de guaraná Paulistinha, como forma de moderação. Poucos tomaram o líquido doce. E todos atribuíram o acontecido ao fato de não terem oferecido o gole pro santo Onofre. E assim foi feito, para reparar a falha.
E o chão do Bate Forte ficou todo molhado para desespero de Dona Assunta.
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