AGENDA CULTURAL

19.11.06

Romantismo com data de validade


Hélio Consolaro


O leitor Duílio Anderline me mandou slides com a evolução da música popular e lírica, como veio perdendo seu romantismo, se tornando erótica, até com sexo explícito.

Acabou o romantismo? Aquela curtição meio platônica no início para depois, bem depois, chegar nos finalmentes desapareceu? Como diz Jacques Lacan: desejar é mais gostoso do que realizar.

Nélson Rodrigues escreveu também que quem ama nunca chega à felicidade, porque o romântico tradicional vive de saudades, seu objetivo não é buscar a felicidade, ele gosta mesmo da frustração, por isso é magro e tem um aspecto crapuloso.

Se não bastasse ter o ser humano pisado a Lua, os cientistas, excessivamente racionais, andam até dizendo por aí que a paixão é o cio humano, que o romantismo é uma doença. Como se tenta explicar tudo, até o mistério, sabe lá Deus!

Deve ser porque o romântico tradicional idealiza o ser amado. Na hora do vamos ver, do dia-a-dia, o príncipe volta a ser sapo; e a princesa retorna a Gata Borralheira. Daí a paixão perder o carmim durante o casamento, de papel passado ou não. Nesses tempos atuais, apenas os não românticos conseguem completar bodas de prata.

Se na década de 30, os casais dançavam sob o som de Pixinguinha: Tu és, divina e graciosa/ Estátua majestosa do amor/ Por Deus esculturada/ E formada com ardor/ Da alma da mais linda flor.

Hoje, nos bailes da vida, cantam assim: Vai! Dá tapinha na bundinha, vai!/ Que eu sou sua cachorrinha, vai!/ Fico muito assanhada,/ se eu pedir você me dá?!/ Lapada na rachada!

As pessoas de personalidade romântica continuam nascendo, mas exercem um romantismo com data de validade: o "carpe diem", porque o sempre também acaba, pois é bom enquanto dura.

Não existe romântico tradicional e romântico moderno, há apenas o romântico. Os termos essenciais continuam, mudaram os termos acessórios, as circunstâncias temporais: o "sempre" por "enquanto dure".

Então, o Consa opta por cantar com Caetano Veloso: Me dá um beijo então/ Aperta a minha mão/ Tolice é viver a vida assim/ Sem aventura/ Deixa ser pelo coração / Se é loucura então melhor não ter razão.

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