11.7.07
Bar pornô
Hélio Consolaro
O boteco Bate Forte estava repleto de barrigudinhos, como sempre. Todos faziam seus pedidos aos gritos, o friozinho do dia colaborava para o consumo de vinho e conhaque. Faca Amolada e Caneta Louca atendiam aos pedidos, correndo pelo bar.
Cada barrigudinho, ao chegar, fazia o seu pedido e jogava o seu primeiro gole ao santo Onofre. Dona Assunta administrava a cozinha, fazendo batatinhas fritas. Amelinha mais marcava do que recebia na caixa. Assim, funcionava mais uma microempresa brasileira.
- Uma tigela de caldo de mocotó, por favor! - gritou alguém.
- Uma garrafa de vinho Chapinha! – pediram aos gritos.
Seu Sugiro retrucou da calçada, onde trabalhava com sua churrasqueira:
- Garantido, espetinhos de filé miau, muito bom com vinho! E os pedidos de churrasquinhos choviam, para alegria do churrasqueiro japonês.
Subversivo ficou entusiasmado com as novas “bolachas” do Bate Forte, com temas eróticos. Bolachas são papelões onde o garçom põe os copos, como forma de não molhar a mesa.
- Caramba! Que mulherão, com tudo de fora! E lambeu a bolacha, ou melhor, o papelão.
Ninguém havia reparado a novidade. Havia vários temas. Alguns apenas com mulheres nuas, outros, com sexo explícito.
Faca Amolada decidiu levar ao pé da letra a afirmação de que o sexo vende. Implantou o pornô bar.
- Desse jeito, os barrigudinhos vão chegar em casa motivados! – gritou Magrão.
- Veja essas belezuras, em casa, a gente encontra o tribufu! – observou Burguês.
- Use a imaginação, cara! Apague a luz e faça tudo com essa loira aqui! – ensinou Banguelo.
De repente, Mimoso veio escandalizado do banheiro, gritando:
- Gente, o Faca Amolada resolveu masculinizar o Bate Forte de vez.
E todos foram correndo ao banheiro masculino, ver as novidades. Havia quadros com imagens motivadoras para a luta do cinco contra um, mesmo bêbados.
Mimoso reclamou direitos:
- Não há cenas gays, isso é uma discriminação!
Dona Assunta gritou:
- Eu disse que isso não daria certo...
Dona Moranga meteu a mão na mesa com toda força que chegou a quebrá-la:
- Se não tirarem isso do Bate Forte, vou denunciar o Faca Amolada ao juiz! E se uma criança entrar aqui? E se um padre for usar o banheiro?
Miltão, o marido, apoiou a mulher. Houve um corre-corre. Caneta Louca recolheu as bolachas e retirou os quadros da paredes.
Faca Amolada tentou se explicar:
- Gente, eu estava apenas brincando...
E gritou:
- Cerveja e vinho por conta da casa!
Assim, todos se esqueceram da ousadia do Faca Amolada!
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