AGENDA CULTURAL

12.8.07

Um pai de luto


Hélio Consolaro

Apesar de ainda ter o pai vivo, filhos maravilhosos e um neto inteligente, confesso que não estava muito animado em fazer um texto de alto astral para este domingo, em comemoração ao Dia dos Pais.
Leio nesta Folha que milhares de pais se negam a assumir a paternidade de seus filhos que gerou pelos caminhos da vida. Ter um risco ou a palavra “desconhecido” no lugar do nome do pai na certidão do nascimento não é nada confortável.

Também li nesta Folha que um pai matou a mãe de sua filha de nove meses na presença do bebê. Sei que uma criança em tenra idade entende pouco do que esteja ocorrendo a sua volta, mas com certeza sentiu o assassinato da mãe.

Também muitos jovens, do gênero masculino, foram bestamente mortos no trânsito, em ruas e rodovias, vítimas de acidentes por desrespeito às regras. Sempre temos a tentação de dizer que tais filhos não foram bem educados pelos pais que, por sua vez, se perguntam: “Onde errei?”

Parece que a testosterona tem pouco espaço na sociedade urbanizada. Ser cavaleiro é bem diferente de ser motociclista ou motorista. Enfeitar o animal com arreios de última geração, sair em disparada como doido por caminhos sem asfalto e cair do cavalo significava na sociedade rural arranhões e fraturas no próprio ginete. Fazer o mesmo com um carro que pode correr 200 km/h coloca em risco seus ocupantes e transeuntes.

Nunca se venderam tantos carros novos como em julho de 2007. E lemos tal notícia com certo orgulho: o Brasil está saindo do subdesenvolvimento; mas há tanto espaço assim em nossas cidades?

Em maio, numa reunião de pais de alunos do ensino médio, com índice de 70% de presença, eu via e ouvia alguns pais meio desesperados. Conversei, diagnostiquei, apontei as falhas dos filhos na escola (que não muda como instituição, parece múmia). E pensei: depois dessa conversa amigável, no próximo bimestre, os alunos terão um melhor rendimento escolar.

Nada! Aliás, pioraram. Conversando com o diretor da escola, eu lhe disse que trabalhar a família é importante para a escola, mas quem está precisando de afetividade são os alunos, precisamos “perder tempo” com eles. Os pais têm pouca influência sobre a vida dos filhos. Hoje, mais do que nunca, todos nós somos educadores, mesmo que não tenhamos filhos nem alunos. Na família, a criança e o jovem precisam mesmo é de afeto, a sociedade ensina o restante.

Entendeu, caro leitor, por que estou chateado... No Dia dos Pais, estou meio de luto, meus filhos (alunos e ex-alunos) morreram.

Um comentário:

Anônimo disse...

SEU ANJO TORTO
Sou educadora de escola pública e ando muito preocupada também com esses "aborrecentes". Gosto do que faço, mas confesso que não estou dando mais conta do recado, não adianta mais apelar para os pais, eles estão mais perdidos do que nós. Temos que fazer os dois papéis, ou melhor, ando sendo mais mãe, amiga deles do que professora. E aí fico sem saber, se fiz certo ou não, porque pouco tempo sobra para meus conteúdos. Que fazer, né?! Beiju