
Hélio Consolaro
Faca Amolada, o dono, e Caneta Louca, empregado e futuro genro, corriam esbaforidos, atendendo às mesas. O primeiro gole era sempre do santo. O Onofre, padroeiro dos bebuns, que ficava em seu nicho impassível, recebia a devoção.
Os pedidos vinham gritados:
- Uma cerva quadrada, mas bem gelada!
- Uma porção de tremoço!
Seu Sugiro gritava lá da calçada:
- Sugiro espetinhos de filé miau! Bom, né!
E os pedidos choviam, para alegria do japonês churrasqueiro.
Subversivo chegou com uma reportagem nas mãos:
- São Paulo realiza o primeiro casamento gay!
Mimoso ficou todo excitado e falou com seus trejeitos:
- Leia isso pra mim, Sub!
- Vou ler, sim, mas, por favor, nada de dengos pra cima de mim!
E começou a leitura:
- No próximo dia 10 de abril, será realizado
E Mimoso sonhou, esvoaçou, imaginou:
- Quando eu me casar com meu cacho, vou convidar Malulão, Dona Terezinha e meus maninhos do Palácio do Riso... E tudo será registrado pela coluna social de Cleto Fontoura!
- E o Consa? Vai ser o “damo” de honra? – alfinetou Magrão.
- Não. Ele vai ser meu padrinho!
Só foram assovios. Alguém gritou:
- O Consa não é mais aquele...
- E quem vai abençoar tal aberração – quis saber Dona Moranga, toda preconceituosa.
- O pastor de minha igreja, Dona Gorducha!
Miltão não gostou de ouvir sua mulher ser chamada de “Gorducha”. E chegou perto de Mimoso:
- Como você chamou minha mulher!
- De tribufu. Isso não é mulher, é uma estrada pedregosa!
Nem preciso contar, caro leitor, que as cadeiras voadoras abriram suas asas. Houve pancadaria para todos, democraticamente. A turma do deixa-disso entrou
- Rodada por conta da casa!
Todos pararam. E o riso virou tragédia. Todos se olhavam nos copos cheios. Nem todos podiam ser como são. Caneta Louca fazia sua maldade, roubava na marcação das comandas.
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