AGENDA CULTURAL

29.3.08

Casamento gay


Hélio Consolaro

O boteco Bate Forte, depois de uma sexta-feira em que passou fechado, sem comemorar o Dia Nacional da Cerveja, estava carregado, havia barrigudinho de pencas. O vozerio era medonho. Pá daqui, pá de lá. Palmeiras ganhando, Corinthians perdendo, São Paulo patinando.

Faca Amolada, o dono, e Caneta Louca, empregado e futuro genro, corriam esbaforidos, atendendo às mesas. O primeiro gole era sempre do santo. O Onofre, padroeiro dos bebuns, que ficava em seu nicho impassível, recebia a devoção.

Os pedidos vinham gritados:

- Uma cerva quadrada, mas bem gelada!

- Uma porção de tremoço!

Seu Sugiro gritava lá da calçada:

- Sugiro espetinhos de filé miau! Bom, né!

E os pedidos choviam, para alegria do japonês churrasqueiro.

Subversivo chegou com uma reportagem nas mãos:

- São Paulo realiza o primeiro casamento gay!

Mimoso ficou todo excitado e falou com seus trejeitos:

- Leia isso pra mim, Sub!

- Vou ler, sim, mas, por favor, nada de dengos pra cima de mim!

E começou a leitura:

- No próximo dia 10 de abril, será realizado em São Paulo o primeiro casamento gay do Brasil. O jornalista, apresentador e repórter da Rede TV Felipeh Campos, 34, e o produtor de moda Rafael Scapucim, 26, receberão 600 convidados para a celebração. A lista de convidados inclui políticos (o governador do Rio, Sérgio Cabral, já confirmou presença), artistas, jornalistas e empresários da mídia, entre outros.

E Mimoso sonhou, esvoaçou, imaginou:

- Quando eu me casar com meu cacho, vou convidar Malulão, Dona Terezinha e meus maninhos do Palácio do Riso... E tudo será registrado pela coluna social de Cleto Fontoura!

- E o Consa? Vai ser o “damo” de honra? – alfinetou Magrão.

- Não. Ele vai ser meu padrinho!

Só foram assovios. Alguém gritou:

- O Consa não é mais aquele...

- E quem vai abençoar tal aberração – quis saber Dona Moranga, toda preconceituosa.

- O pastor de minha igreja, Dona Gorducha!

Miltão não gostou de ouvir sua mulher ser chamada de “Gorducha”. E chegou perto de Mimoso:

- Como você chamou minha mulher!

- De tribufu. Isso não é mulher, é uma estrada pedregosa!

Nem preciso contar, caro leitor, que as cadeiras voadoras abriram suas asas. Houve pancadaria para todos, democraticamente. A turma do deixa-disso entrou em ação. Faca Amolada tratou logo de gritar:

- Rodada por conta da casa!

Todos pararam. E o riso virou tragédia. Todos se olhavam nos copos cheios. Nem todos podiam ser como são. Caneta Louca fazia sua maldade, roubava na marcação das comandas.

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