AGENDA CULTURAL

23.3.08

Quebrar o ovo

Acadêmico Mário de Alencar

Hélio Consolaro

Não, caro leitor, não escreverei sobre a Páscoa nem sobre o ovo de chocolate. Quero falar sobre a arte de viver, a estética da vida. Afinal, se Cristo veio ao mundo, foi para que a pessoa seja feliz. Sei que você não foi participante da procissão do Nosso Senhor Morto na sexta-feira, porque é da escola de samba do Senhor Vivo.

Esse negócio de que a “vida é um vale de lágrimas” ou de “quem ri por último, ri melhor” é contra a alegria de viver. Não precisamos andar por aí com um sorriso de plástico na boca, mas enfrentar a vida com galhardia, cabeça erguida. A vida é uma seqüência de dificuldades, supera-as quem sabe administrar conflitos. Não espere o céu, até a aposentadoria vira um inferno se não soube viver bem durante a juventude.

Sempre digo a meus alunos que se mirem no exemplo da vida de Machado de Assis. Embora ele tenha sido um cético, lutou por ela com todas as forças, sem grandiloqüência como faziam os parnasianos da época.

Machado de Assis era afro-descendente e epilético. Naquele tempo não havia remédio para evitar os acessos. Tinha tudo para não dar certo se tivesse freqüentado o muro das lamentações.

Machado de Assis não fez faculdade, aprendeu tudo no jornal, onde começou como serviçal, participando das rodas de intelectuais, ouvindo muito. Até que foi convidado a escrever. Não viajou ao exterior, apesar de ser hoje o escritor brasileiro mais estudado em universidades estrangeiras. Além de todas essas limitações, era gago. Machado de Assis fundou a Academia Brasileira de Letras e foi reconhecido literariamente ainda em vida, continuando sua trajetória de sucesso após a morte.

Apesar de ser uma Luíza Erundina de calças, casou-se com moça bonita, Dona Carolina, e circulam por aí, e Carlos Heitor Cony acendeu a polêmica mais recentemente, que Machado de Assis andava com a mulher de José de Alencar, com quem teve um filho, o Mário de Alencar (veja as iniciais: M.A.). Esse se tornou um escritor medíocre, mas que foi colocado na Academia Brasileira de Letras pelas mãos do verdadeiro pai.

Não estou aqui para fazer literatices, mas para mostrar ao caro leitor que, quando se deseja, pode crescer. Basta não se conformar e nem assumir a posição de coitadinho.

Então, caro leitor, quebre o ovo e faça uma omelete de sua vida. E cante com Jair Rodrigues: “Deixa que digam, que pensem que fale. Deixa isso para lá, vem pra cá, o que é que tem. Eu não estou fazendo nada, você também. Faz mal bater um papo assim gostoso com alguém? Vai, vai, por mim. Balanço de amor é assim..."

Quebrar o ovo é ressuscitar! Cantar a vida.

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