AGENDA CULTURAL

10.8.08

Sentimento de nação

Fotógrafo: Thiago Floriano

Hélio Consolaro

Como já disse em crônica anterior (Pôr fogo em livro), fui ver o meu Verdão jogar no Parque Antártica, derrotar o Santos, num dia como hoje, em que o jogo não é transmitido pela tevê aberta. Se para o palmeirense paulistano isso é uma rotina, um interiorano tem oportunidades raras. Passa a ser turismo.

Tive que esconder o meu livro, comprado na livraria do shopping, na moita para poder entrar no estádio, com medo danado de que alguém o roubasse, porque em estádio de futebol levar um livro é um ato terrorista. A Rita Lavoyer, escritora e membro do Grupo Experimental, deixou um comentário no blog dizendo que se estivesse lá, roubaria o livro e deixaria no lugar a bandeira do Corinthians. Seria uma afronta!

No Espaço Visa do Palestra Itália, ao lado de outro palmeirense, o meu sobrinho Thiago, tive a oportunidade de ser um torcedor alviverde ao vivo. Confesso que não era um setor tão animado como a galera do amendoim, mas ouvi muitos palavrões, como:

- Juiz ladrão! Sua mãe é corintiana e seu pai é são-paulino!

Quando eu olhava para trás, quem xingava era um sujeito engravatado, que talvez acabara de sair do pregão da Bolsa de Valores. Em estádio de futebol, as classes se nivelam.

Embora a unanimidade seja burra, a paixão precisa ser correspondida, pois o sentimento de nação, de coesão, todos falando a mesma língua, com entusiasmos e decepções sincronizados nos põem no mundo das excelências, mesmo que seja em linguagem chula.

Este croniqueiro estava hospedado em Santos, comendo de graça em casa de parente. Fomos, eu e Thiago, a Sampa de ônibus, pois por aquelas bandas não dirijo. E nada de se misturar à torcida santista para pegar carona, porque os dois palmeirenses estavam uniformizados.

Na volta, na estação Barra Funda do metrô, entramos no vagão da tribo palmeirense para alcançar a Sé. Cantoria, bumbo, usando as paredes do vagão como pandeiro. Aquela alegria.

Na Sé, abriram-se as portas do vagão, um batalhão de seguranças nos esperando.

- Quem for para Jabaquara, pegar o primeiro vagão. Todos lá, sem boquejar!

Aquela molecada que se dizia da Mancha Verde e três cabeças grisalhas, como este croniqueiro, no meio. Entramos no primeiro vagão. Cerca de dez seguranças nos esperavam lá dentro. E a ordem veio para não ser desobedecida:

- Calados! Quem cantar, conversar, fazer batucada aqui vai entrar no cacete! Seus frangotes!

Os galos “véios” nem cocoricavam. Lembrei-me do Doi-Codi, em 1973, na rua Tutóia. Pensei: “Vai ser preso de novo, Consa! Agora acusado de ser da Mancha Verde”! Que evolução...

Lembrei-me também de meus gritos em salas de aula, quando a desordem impera. Senti-me ridículo no lugar dos policiais, mas também pensei que tudo podia degenerar em depredação do poder público. Professor e policial, pressionados pela sociedade, precisam manter a ordem.

Chegamos a Santos à 1h, cansados, sem banho, mas felizes, como dois brasileiros sem eira e nem beira, mas que tinham um time vencedor...

Comentário de gente importante:
Freqüentador do Bar Bate Forte em Araçatuba, Helio Consolaro, ou simplesmente Consa, professor, jornalista, escritor, conhecido por aquelas bandas principalmente como palestrino, publica, quando publicam, suas crônicas na Folha da Região.

Estando em Santos a veraneio, como falam lá na Grande Guararapes - incluí Araçatuba - resolveu assistir ao jogo do Verdão contra o Santos. Deu-se o caso, ou causo!

Prestem atenção leitores do 3VV, acho que conhecemos um dos personagens, aquele engravatado, que aparece na segunda parte do causo.

Hoje o meu causo é contar o causo do Consa!

JOTA CHRISTIANINI
http://terceiraviaverdao.blogspot.com

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