AGENDA CULTURAL

20.9.08

Ruas de Araçatuba


Hélio Consolaro


Os barrigudinhos chegavam animados para comemorar o Dia Nacional da Cerveja, sexta-feira. O primeiro gole era sempre para Santo Onofre, que lá de seu nicho observava a pobre humanidade. Faca Amolada e Caneta Louca atendiam aos pedidos, que eram gritados.

- Uma cerva bem gelada para o degas aqui!

- Uma porção de calabresa!

- Três pestinhos de filé miau!

Dona Assunta administrava a cozinha. Amelinha era o caixa. Mais passava cartão de crédito e marcava no velho sistema do fiado do que recebia.

De repente, Burguês, o mais rico da turma, chegou com uma camioneta incrementada, em vez de rodas tinha esteiras. Chegou dizendo:

- Comprei essa desgraça para poder andar nas ruas de Araçatuba. Não agüento mais trocar pneus!

Todos foram ver a novidade.

Dr. Duas Caras chegou, sentou-se, afrouxou a gravata, ajeitou o cabelo embebido em gel, fez um piparote, e Faca Amolada lhe trouxe duas cervejas: uma clara e outra escura, que ele bebia à carioca.

Magrão fez-lhe a pergunta, que foi respondida com moderação:

- Que o senhor acha da nova prefeita?

- Ela está limpando o caminho para o outro prefeito, certamente, vai deixar os Malulys mais complicados ainda. Ela apenas lancetou o tumor, o pus vai escorrer pelas ruas de Araçatuba.

Papo de cá, papo de lá. Corinthians e Palmeiras, Santos e São Paulo. Até que o Dr. Duas Caras estava encerrando a terceira rodada de cervejas. Vermelho, veias do pescoço estufadas, Magrão repete a pergunta. E a resposta vem num naviozinho desgovernado, remando em cerveja:

- Araçatuba trocou seis por meia dúzia. Saiu a turma do Maluly, entrou a do Andorfato. Não está deixando um cargo sem preencher! Só pensa em vingança!

Muitos bateram palmas, outros resmungaram. Até que Subversivo perguntou por Miltão:

- Cadê o homem forte do prefeito? O puxa-saco?

Nem preciso explicar, caro leitor, que o pau quebrou, cadeiras voaram, pescoções foram distribuídos democraticamente. Faca Amolada gritou:

- Rodada por conta da casa!

Assim, a confusão arrefeceu. A turma do deixa-disso agiu. E todos saboreavam uma gostosa cerveja. De graça não era, mas a paz prevalecia.

Um comentário:

Patrícia Bracale disse...

Creio que terei que comprar uns pneus turbinados como da camionete, para não estourar mais o pneu do meu carro...
Eita, Buracotuba!!!