AGENDA CULTURAL

5.10.08

Novamente, Lourenço Diaféria


Hélio Consolaro


Recebi e-mail do leitor Pedro Henrique Gasparini em que comenta a crônica “Morreu um xavequeiro”, de 21/8/2008, quando este croniqueiro homenageou o cronista Lourenço Diaféria, morto em 16/8/2008. No texto, genericamente relatei uma da visita de Lourenço Diaféria à redação do extinto “Jornal A Comarca”, Araçatuba. Ao introduzir o assunto, usei a tradicional expressão: “conta a lenda que...,”

Pedro afirma que Diaféria esteve realmente no extinto jornal numa visita rápida, depois de outros compromissos em Araçatuba. Chegou mais ou menos às 23h30, trazido pelo velho Bira (Ubirajara Lemos era o pseudônimo de Odorinho Perenha) e este solicitou que escrevesse uma crônica naquela hora, oferecendo a sua velha Remington.

Segundo Pedro, estavam na redação o Márcio Polidoro, na época redator e ele, chefe da oficina e linotipista. E Lourenço Diaféria, no texto, comentou sobre o convite do Bira, citou os nomes dos três, a cidade do interior que também tinha uma Praça Rui Barbosa... E enquanto escrevia, Pedro e Márcio não acreditavam que estavam diante do famoso cronista da Folha de S. Paulo. Terminou a crônica rapidamente no papel jornal e entregou a eles. Pediram-lhe que a autografasse, pois o visitante era muito importante. Imediatamente, Pedro Henrique foi para a linotipo e compôs o texto de Lourenço Diaféria para felicidade dos três e dos leitores.

Quando Pedro chegava ao jornal no outro dia, a primeira coisa que fazia era juntar os originais das matérias que saíram no dia, enrolava-os no jornal do dia e arquivava-os.

Com o texto de Diaféria, foi diferente. Pedro, conta ele, separou o original da crônica e levou-o até o Márcio Polidoro e disse: “Vamos colocá-lo num quadro?”. Ele respondeu: “Merecia, mas vou ficar com o original. Não é qualquer um que tem um original da crônica do Lourenço Diaféria, assinada e citando nossos nomes.”

Pedro não sabe se o Márcio Polidoro, que não mora mais em Araçatuba, ainda está com o original, mas promete perguntar-lhe num futuro encontro entre ambos.

Meu mano Gegê também meteu sua colher de pau no angu. O cronista Lourenço Diaféria era agente fiscal de rendas. Ingressara no Fisco em 1959 e se aposentara em 1990. Foi preso, sim, em 1977, pela ditadura militar, mas era um homem do sistema.

E contou uma particularidade. Por ser Diaféria muito querido entre seus pares, fiscais, a legislação lhe abriu um precedente. Na lei que regulamenta o exercício da função, permitiu que os ocupantes desse cargo exercessem outros empregos, como o de professor e os ligados à difusão cultural, incluindo na difusão cultural o jornalismo, dando oportunidade ao colega Diaféria, com isso, a engrandecer a sua categoria profissional.

Embora o cronista seja um xavequeiro, é um bicho querido pelos leitores.

Um comentário:

Unknown disse...
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