AGENDA CULTURAL

28.11.08

Divulgar pela cultura


Hélio Consolaro


Araçatuba completa na terça-feira 100 anos. Haverá muitos e merecidos festejos. Não sou daqueles que dizem: “Comemorar o quê?” A vida terrestre não voltará a ser um paraíso, porque nós o destruímos sem piedade. Não me refiro àquele mundo imaginário, onde Deus faz sua morada com anjos e boas almas.

Nossas Evas e Adãos tinham apenas um nome: caingangues. Também não vou chorar aqui o elo perdido, vamos ter que enfrentar as durezas da vida como se apresentam, sem aquela frase infeliz que acaba com a vontade de viver dos românticos e idealistas: “Mas poderia ser diferente”. Podia, mas não o é, então construamos o real conforme as possibilidades.

Nestes 100 anos, Araçatuba tem uma incipiente literatura, mas até que está encorpada pela idade e por seu tamanho. Há entre nós gente e jovens que gostam de escrever e uma organização que, bem ou mal, os reúnem: a Academia Araçatubense de Letras. São José do Rio Preto, com sua pujança, agora é que começa a articular seus escritores.

Precisamos prestigiar os autores locais. A literatura não vive apenas de best-sellers, ela precisa de autores que fazem tiragem de 500 exemplares e põe neles a realidade local. Comparo-a ao futebol, que não vive apenas com os grandes times, precisa dos pequenos para que o gosto pelo esporte seja cultivado com a prática.

Nossos prefeitos nunca pensaram em divulgar Araçatuba por meio da sua cultura. Já usaram até o futebol e não se deram bem. Temos, por exemplo, um concurso nacional de contos, que só não é mais respeitado em todo o Brasil porque não se deu a ele a envergadura necessária para que fosse nosso outdoor no cenário nacional.

Paulo Francis vivia citando, em seus artigos, Araçatuba, alimentado por araçatubenses pessimistas, como exemplo de cidade sem livrarias. Precisou morrer para que a realidade mudasse. Nada resolve pichar a cidade, se faz necessário pôr a mão na massa, fazer o trabalho de transformação, de mudança.

Em todas as artes, há seus precursores. Este croniqueiro pertence à literatura, então, peço licença ao leitor para fazer uma homenagem a uma pessoa que anda afastada das lides literárias por lhe faltar saúde, nosso Célio Pinheiro, que independente de sua personalidade, temperamento, jeito de ser, carregou a bandeira da literatura em Araçatuba. Acreditou e fez. E aos demais 14 acadêmicos, que o seguiram, fundando a Academia Araçatubense de Letras: Odette Costa, Arnot Crespo, Zezé Bedran, Acyr Lima de Castro, Antônio Perri, Solange Castro Neves, Almir Bodstein, Marilurdes Campezi, Paulo Napoleão, Mário César Rodrigues, Lúcia Piantino, Tetuo Okamoto, Eddio Castanheira, Geraldo da Costa e Silva.

Eles não nos devolveram o paraíso, mas, com certeza, fizeram esse vale de lágrimas menos lamentoso. Parabéns!

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