
Hélio Consolaro
Araçatuba completa na terça-feira 100 anos. Haverá muitos e merecidos festejos. Não sou daqueles que dizem: “Comemorar o quê?” A vida terrestre não voltará a ser um paraíso, porque nós o destruímos sem piedade. Não me refiro àquele mundo imaginário, onde Deus faz sua morada com anjos e boas almas.
Nossas Evas e Adãos tinham apenas um nome: caingangues. Também não vou chorar aqui o elo perdido, vamos ter que enfrentar as durezas da vida como se apresentam, sem aquela frase infeliz que acaba com a vontade de viver dos românticos e idealistas: “Mas poderia ser diferente”. Podia, mas não o é, então construamos o real conforme as possibilidades.
Nestes 100 anos, Araçatuba tem uma incipiente literatura, mas até que está encorpada pela idade e por seu tamanho. Há entre nós gente e jovens que gostam de escrever e uma organização que, bem ou mal, os reúnem: a Academia Araçatubense de Letras. São José do Rio Preto, com sua pujança, agora é que começa a articular seus escritores.
Precisamos prestigiar os autores locais. A literatura não vive apenas de best-sellers, ela precisa de autores que fazem tiragem de 500 exemplares e põe neles a realidade local. Comparo-a ao futebol, que não vive apenas com os grandes times, precisa dos pequenos para que o gosto pelo esporte seja cultivado com a prática.
Nossos prefeitos nunca pensaram
Paulo Francis vivia citando, em seus artigos, Araçatuba, alimentado por araçatubenses pessimistas, como exemplo de cidade sem livrarias. Precisou morrer para que a realidade mudasse. Nada resolve pichar a cidade, se faz necessário pôr a mão na massa, fazer o trabalho de transformação, de mudança.
Em todas as artes, há seus precursores. Este croniqueiro pertence à literatura, então, peço licença ao leitor para fazer uma homenagem a uma pessoa que anda afastada das lides literárias por lhe faltar saúde, nosso Célio Pinheiro, que independente de sua personalidade, temperamento, jeito de ser, carregou a bandeira da literatura
Eles não nos devolveram o paraíso, mas, com certeza, fizeram esse vale de lágrimas menos lamentoso. Parabéns!
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