AGENDA CULTURAL

10.6.09

Viver é um risco


Hélio Consolaro

Hoje ninguém quer correr risco. Faz-se seguro de tudo. Se uma pessoa encontra uma cobra no seu quintal, mesmo que seja uma cobra-cega, que é um elemento de nossa natureza, o cidadão clama aos poderes públicos, falando cobras e lagartos do prefeito de sua cidade.

Se a proposta fosse atender às reivindicações dos cidadãos mais inseguros, cada pessoa devia ter um policial ao seu lado, dando-lhe segurança. Hoje, não se pode isso, não se pode aquilo. Vivemos num cipoal de proibições. Como se proibir fosse o melhor caminho para resolver nossos problemas.

O professor John Adams, da Universidade de Londres, no seu último livro “Risco”, escreveu que o “Homo prudens” está tomando conta do “Homo aleatorius”, tudo precisa ser previsível (ver resenha no caderno Aliás, Estadão, de 24/5/2009).

Lembrei-me das apresentações do circo do Marcos Frota que se instalou em Araçatuba em fins de abril. Saí do espetáculo meio frustrado. Certamente, aquela casa ambulante de espetáculos tinha Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes).

Não havia como alguém se machucar. No salto do trapezista não dava nos espectadores aquele friozinho na barriga, nem aquele grito coletivo de suspense. Todos os artistas estavam protegidos por rede e amarrados em cordas elásticas.

Não havia globo da morte, nem leões ferozes. Tudo sob medida do politicamente correto. Para quem já viu grandes circos, como este croniqueiro, que durante todo o espetáculo o coração vinha à boca por diversas vezes, o circo do Marcos Frota foi uma chatice.

Nós, da classe média, que já atingimos um bom nível de vida, somos realmente muito chatos. E queremos construir o mundo à nossa imagem e semelhança. Morrer para quê, correr risco por quê, se estamos na zona do conforto supremo. Não precisamos arriscar e nem desejar que o mundo melhore. Está tudo muito bom, não podemos correr riscos.

Assim, enquanto o mundo caminha para a legalização das drogas como forma de combater tráfico e consumo, o governador José Serra, na contramão da história, está fazendo do cigarro uma droga ilícita, atendendo aos clamores de uma classe média grávida de moralismos.

Confesso aos leitores que nunca fui fumante. E aprovei as medidas antitabagistas do governador até a exigência de instalação de fumódromos nos restaurantes, mas agora o “homem” exagerou.

Há gente querendo instalar o toque de recolher para menores, pois não conseguem educar seus próprios filhos. Outros querem bares fechados a partir das 22 horas. Daqui a pouco a única posição sexual permitida na cama será a papai-mamãe.

Não torço para que nossas cidades se tornem Sodoma e Gomorra. Desejo que elas sejam lugares agradáveis, com qualidade de vida, espelho de nossa educação e de nossa consciência cidadã.

Elas não podem se transformar em gaiolas de outro. Proibições e ditaduras nunca construíram coisas agradáveis.

Um comentário:

Patrícia Bracale disse...

Proibição é atestado de falta de EDUCAÇÃO.
Liberdade é para quem sabe escolher...
Para quem tem discernimento entre causa e efeito.