AGENDA CULTURAL

4.12.09

Acariciar livros


Hélio Consolaro

Quando eu era um simples professor, nos feriadões, curtia a casa, recebia a visita de parentes, jogava tranca, limpava livros e prateleiras. Fazia do limão, a falta de dinheiro, limonada, coisas pequenas que dão prazer. Neste 2009, como secretário da Cultura, trabalho mais nos feriados.
Falemos do passado. Nos feriados, sempre me sobrava tempo para acariciar os livros com flanela ou escova, cada prateleira se livrava da poeira do tempo. Dessa forma, meu cantinho criativo ficava mais agradável.
Cada volume de uma biblioteca particular tem uma história. De alguns livros, até me lembrava as circunstâncias em que foram adquiridos ou ganhados; de outros, o trabalho que deram para ser lidos, no começo de uma caminhada. Alguns continuam à espera de meus olhos. Uma biblioteca é o projeto de leitura de seu dono que dificilmente será executado por completo.
Além disso, hoje se lançam tantos livros que ninguém consegue ler todos, nem que sejam apenas os títulos de sua área de trabalho. Dizer que estamos atualizados não é um desafio, é uma mentira.
A escritora Ruth Rocha sempre afirmou uma verdade: nem todos gostam de ler, e não morrerão por isso. Eu gosto de livros, descobri o mundo por eles. Cada leitor tem sua história de amor ou de repulsa aos livros.
Descobri recentemente que guardar livros é um egoísmo exacerbado. Eles precisam circular, passar de mão em mão, mas há sempre os títulos mais estimados, que exigem releituras, rever partes grifadas. Troco livros em sebos, menos aqueles com que mantenho um certo pegadio.
Há alguns anos, readquiri o dicionário Caldas Aulete num sebo em Araçatuba. O Oscar me telefonou:
- Apareceu o Caldas Aulete, cinco volumes, que o senhor tanto procurava.
Juntei alguns livros imprestáveis para mim, mas que podem ser úteis a alguém, por isso levei-os ao Oscar. Paguei e peguei meu esperado dicionário. Senti-me como se estivesse adotado um velho, tirando-o do asilo.
Eu tinha meu Caldas Aulete (cinco volumes), porque um professor de Português dos tempos idos, sem ele, não era completo, mas perdi um volume na mudança que fiz de retorno a Araçatuba em 1977. Reencontrei um velho amigo.
Hoje, tenho o Aulete digital, com uma roupagem nova, mas o novo não traz as particularidades e a profundidade nos verbetes do antigo, que não se acham nem na internet.
Uma livraria é um berçário, onde se adotam filhos novos. Apesar de a compra pela internet ser cômoda, gosto de comprar apalpando cada livro. Deixei de ser aquele comprador impulsivo, sou mais seletivo.
Araçatuba já foi espezinhada pelo finado Paulo Francis, polêmico jornalista, como uma cidade sem livrarias. Hoje, não temos uma Livraria Cultura, mas já é possível comprar pelo menos os best-sellers.

Um comentário:

Patrícia Bracale disse...

Uma coisa que me incomoda muito é não conseguir ler um livro por mês.
Cada cômodo da minha casa tem um livro que eu estou lendo...fora qdo carrego na bolsa para ler nas filas da vida.
São nossos melhores amigos.
Adoro aqueles que abrimos em qualquer página e tem sempre o que precisamos ouvir naquele momento.