AGENDA CULTURAL

25.12.12

Natal é alegria

Hélio Consolaro*
Tenho um amigo que não gosta de Natal. Nada ele tem contra a religião, mas a festa lhe faz lembrar as frustrações da infância: a falta de um presente, a falta de dinheiro do pai para fazer uma ceia.

Embora esse meu amigo não seja mais pobre, a ceia de Natal em sua casa é farta, mas a tristeza incrustou em sua alma nestes momentos que ele não se liberta, volta a ser a criança tristonha.

Natal é família, reflexão. Ano-novo são amigos, comemoração. Na festa de primeiro de janeiro, começa o carnaval.

E não existe nada mais íntimo do que a família. Nas vésperas e na véspera, na ceia, no dia do peru, há o encontro de irmãos, pais, avós, filhos, netos.

As neuras afloram novamente, rusgas são lembradas, reconciliações acontecem, porque é na família que cada um encontra o cerne, o eixo, a essência de sua personalidade. É o encontro da tribo.

A pessoa pode ser chefe no local de trabalho, cheio de empáfia, useiro e vezeiro das máscaras da competência, um mascarado, mas para a família sempre será o Mané, o Zé Carlos, a Cidinha, a Lurdinha.    

Como o cardeal de Milão Carlo Maria Martini perguntou a Umberco Eco nos diálogos pela revista “Liberal”: em que crêem os que em nada crêem, mostrando-se um homem escravo da fé, pois não entendia como um ateu pudesse ser bom sem crer em Deus, eu me pergunto, também limitado às minhas vivências, como uma pessoa pode viver sem família.

Os casamentos se desfazem, famílias são dissolvidas, mas as pessoas separadas logo formam outras porque não existe nada mais solitário do que um quarto de pensão.

Natal ainda é frustração para muitas crianças. Bem que meu amigo podia sair de sua tristeza agora, fazendo muitas crianças felizes neste Natal. Uma alegriazinha passageira, provocada por uma besteirinha, mas tão necessária.

Não adianta gritar contra a sociedade consumista. A criança não entende. Todos ganham presentes, os colegas participam de ceias em suas casas e as crianças carentes de amor apenas escutam a festa com seus corações cheios de frustrações que poderão se transformar em ódio no futuro.

Deixe alguém alegre. Experimente ser generoso. Faça uma criança sorrir e lembrar sempre que Natal é alegria.  

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Atualmente é secretário da Cultura de Araçatuba-SP 

3 comentários:

Patrícia Bracale disse...

Olha a coisa que mais sinto falta é das festas de + de 2 décadas...
Quintal cheio, criançada bagunçando, adultos dançando altas horas aquelas marchinhas de carnaval, risos, abraços, rabanadas, saudades...

Antenor Rosalino disse...

Sapiência pura, delineada com tal leveza, simplicidade e tão natural clareza de sentimentos que não dá para não se emocionar. Aplausos, professor,e que neste Natal haja o resgate do sentimento cristão em todos os lares e, consequentemente, todos tenham a mais profunda paz.

Heitor Gomes disse...

O mais importante para mim no Natal é o consumo, pois ele fomenta o mercado dando emprego e dignidade a muitas famílias. A confraternização é claro que é importante, pois ela nos aproxima, fazendo com que muitas vezes perdoemos até nossos desafetos. Mas tudo isso é lindo com dignidade. E sem consumo não existe dignidade. Isto é a pura verdade! Amém!