AGENDA CULTURAL

29.3.11

O novo sempre desacomoda e incomoda, causa reações.


O texto abaixo é um exemplo de como há sempre pessoas que reagem negativamente ao novo. Não se trata de ignorância. Ninguém pode acusar Olavo Bilac disso.
 Você, caro internauta, como reage às novidades culturais, tecnológicas, morais? Leia o texto antes de buscar qualquer resposta. 

Fotojornalismo
Vem perto o dia que soará para os escritores a hora do irreparável desastre e da derradeira desgra­ça. Nós, os rabiscadores de artigos e notícias, já sen­timos que nos falta o solo debaixo dos pés... Um exér­cito rival vem solapando os alicerces em que até ago­ra se assentava a nossa supremacia: é o exército dos desenhistas, dos caricaturistas e dos ilustradores. O lápis destronará a pena .
O público tem pressa. A vida de hoje, vertiginosa e febril, não admite leituras demoradas, nem reflexões profundas. A onda humana galopa, numa espumarada bravia, sem descanso. Quem não se apressar com ela, será arrebatado, esmagado, exterminado. O sécu­lo não tem tempo a perder. A eletricidade já suprimiu as distâncias: daqui a pouco quando um europeu espir­rar, ouvirá incontinênti  o “Deus te ajude” de um americano. E ainda a ciência humana há de achar o meio de simplificar e apressar a vida por forma tal que os homens já nascerão com dezoito anos, aptos e ar­mados para todas as batalhas da existência.
Já ninguém mais lê artigos. Todos os jornais abrem espaço às ilustrações copiosas.  As legendas são curtas e incisivas: toda a explicação vem da gravura, que conta conflitos e mortes, casos alegres e casos tristes.
É provável que o jornal-modelo do século XX seja um imenso animatógrafo, por cuja tela vasta pas­sem reproduzidos, instantaneamente, todos os in­cidentes da vida cotidiana. Direis que as ilustrações, sem palavras que as expliquem, não poderão dou­trinar as massas nem fazer uma propaganda eficaz desta ou daquela idéia política. Puro engano.
Have­rá ilustradores para o louvor, ilustradores para a censura, ilustradores para a sátira, ilustradores para a piedade.
Quando o diretor do jornal quiser dizer que o povo morre de fome — confiará suas idéias a um pintor de alma fúnebre, que mostrará na tela os cadáveres empilhados pelas ruas, sob uma revoada de corvos sinistros; quando quiser dizer que o político X é um cretino que não vê dois palmos adiante do nariz —apelará para o talento de um caricaturista, que, pin­tando a vítima com um respeitável par de imensas orelhas, claramente exprimirá o pensamento da fo­lha. Demais, nada impede que seja anexado ao animatógrafo um gramofone de voz tonitruosa, en­carregado de berrar ao céu e à terra o comentário, grave ou picante, das fotografias.
E convenhamos que, no dia em que nós, cronis­tas e noticiaristas, houvermos desaparecido da cena— nem por isso se subverterá a ordem social. As palavras são traidoras, e a fotografia é fiel. A pena nem sempre é ajudada pela inteligência; ao passo que a máquina fotográfica funciona sempre sob a égide da soberana Verdade, a coberto das inumerá­veis ciladas da Mentira, do Equívoco, e da Miopia intelectual. Vereis que não hão de ser tão freqüentes as controvérsias...
[...]
No jornalismo do Rio de Janeiro, já se iniciou a revolução que vai ser a nossa morte e a opulência dos que sabem desenhar. Preparemo-nos para mor­rer, irmãos, sem lamentações ridículas, aceitando resignadamente a fatalidade das coisas, e consolan­do-nos uns aos outros com a cortesia de que, ao menos, não seremos mais obrigados a escrever bar­baridades...
Saudemos a nova era da imprensa! A revolução tira-nos o pão da boca, mas deixa-nos aliviada a cons­ciência.
BILAC, Olavo. Vossa insolência crônicas. Organização de Antonio Dimasi. São Paulo, Companhia das Letras, 1996.

Biografia de Olavo Bilac
O poeta parnasiano Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac, nasceu no dia 16 de Janeiro de 1865, no Rio de Janeiro. Estudou Medicina e Direito, mas não concluiu nenhum dos dois cursos. Foi jornalista, funcionário público e inspetor escolar. Olavo Bilac foi um autêntico profissional das letras. Além de poemas líricos, escreveu crônicas, livros didáticos, textos publicitários, traduziu e escreveu versos infantis, organizou antologias escolares e deixou fama como autor humorístico. Sob o disfarce de mais de cinqüenta pseudônimos, colaborou intensamente na imprensa da época, com textos que fizeram rir ou esbravejar muita gente... Bilac fez campanhas pelo serviço militar obrigatório, pela cultura física, pela instrução primária e outras campanhas cívicas. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, na cadeira 15, cujo patrono é Gonçalves Dias e é autor da letra do Hino à Bandeira e foi eleito “Príncipe dos poetas brasileiros” por seus contemporâneos. Foi um dos poetas mais combatidos pelos modernistas. Além de parnasiano, sua obra apresenta tonalidades românticas. Sua poesia amorosa e sensual expressa-se em versos vibrantes, plenos de emoção. Em sua última fase, Olavo Bilac revela-se mais interiorizado, questionando o sentido da vida e do mundo. No livro Alma inquieta, surgem poemas em que predomina o tom meditativo e melancólico, que será a tônica de seu último livro, Tarde, no qual é constante a preocupação com a morte e o sentido da vida. Ficou noivo de Amélia, irmã de Alberto de Oliveira, mas por imposição da família de Amélia, foi obrigado a romper o noivado e ficou solteiro até o fim da vida. Morreu aos 53 anos, no dia 28 de Dezembro de 1918, no Rio de Janeiro. Algumas de suas principais obras foram: Poesia (1888), dividida em “Panóplias”, “Sarças de fogo”, “Via Láctea” e a poesia infantil “Tarde”.

Origem: http://pt.shvoong.com/books/biography/1770236-biografia-olavo-bilac/#ixzz1HyzxbVe3

2 comentários:

jhamiltonbrito.blogspot.com disse...

Com o advento da anestesia, duvido que alguém seja contra qualquer inovação. Eu as aceito bem, se me servem , uso. Caso contrário, servirão para outro.

S disse...

Quem me dera, como caricaturista e chargista ser o algoz de muitos poetas e escrivinhadores medíocres que inclusive se auto denominam como tais e assassinam as letras!?
Viva os inteligentes, os emocionais e santificados pelas boas letras, que continuem sintéticos ou não, benditos sejam, pois além de tudo, são fontes inesgotáveis de inspiração para esse humilde servo dos traços que lhes escreve. Sizar