AGENDA CULTURAL

10.6.11

A tarefa de ensinar a norma culta

Alessandra Bizoni - Folha Dirigida - 31/05/2011


Evanildo  Bechara
E a polêmica em torno do livro "Por uma vida melhor", da Coleção Viver, Aprender, está longe de chegar ao fim. Titular da cadeira 33 da ABL (Academia Brasileira de Letras), o professor e gramático Evanildo Cavalcante Bechara reconhece alguns méritos na obra, mas critica a postura adotada pelos autores do livro. Autor da "Moderna Gramática Portuguesa", uma das mais utilizadas em nosso país, Bechara é taxativo ao afirmar que o "linguista assumiu o lugar do professor de língua portuguesa" ao defender a utilização da linguagem popular no livro didático. Na semana passada, na edição de nº 1.953, a FOLHA DIRIGIDA publicou uma entrevista com Marcos Bagno, docente da Universidade de Brasília (UnB), que saiu em defesa dos autores do livro "Por uma vida melhor". Dentre as críticas que fez, Marcos Bagno, ao comentar a nota oficial da ABL condenando o livro didático, disse: "Não concordo com nada que venha da Academia Brasileira de Letras (ABL) porque, na minha opinião, essa entidade simplesmente nem deveria existir. Ela não serve para absolutamente nada, não tem nenhum impacto em nossa vida social e cultural e só serve para gastar dinheiro público. Esses 40 senhores e senhoras não têm nada a dizer sobre ensino porque não atuam na área. A única  exceção é o professor Evanildo Bechara, gramático respeitável, mas que, infelizmente, é francamente reacionário quando a questão é ensino de língua."

A questão do financiamento público já foi explicada pelo acadêmico Murilo Melo Filho, segundo secretário da ABL, na edição de nº 1.954 da FOLHA DIRIGIDA, que fica nas bancas até esta quarta, dia 1º de junho. Segundo Murilo Melo Filho, a ABL não recebe quaisquer recursos públicos e obtém seu financiamento a partir do aluguel do prédio de 33 andares, que fica ao lado da sede histórica da instituição, em um quarteirão valorizado no Centro do Rio de Janeiro. Mantendo sua postura democrática e o interesse em esclarecer nossos leitores em torno da polêmica criada do livro didático, a FOLHA DIRIGIDA abriu seu espaço ao conhecido gramático, que dá, aos leitores, uma verdadeira aula de ensino de língua portuguesa. Indo além da análise feita pelos principais órgãos de imprensa, Bechara condena a escolha do texto de interpretação, presente no capítulo da obra disponível na internet.

"O texto apresentado, no mesmo capítulo, como texto de língua escrita para interpretação ‘Migna  terra’, de Juó Bananére*, é escrito em um dialeto ítalo-português oral do início do século passado. O texto tem expressões como ‘Migna terra tê parmeras,/Che ganta inzima o sabiá’. Nós não damos para um aluno que está aprendendo a ler um texto de Guimarães Rosa, porque ninguém fala como Guimarães Rosa escreve. E língua portuguesa de Guimarães Rosa é uma estilização, como Juó Bananére faz uma estilização do italiano. E, nesse momento, percebemos que entrou o linguista no lugar do professor de Português", afirmou o educador.
Membro correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, doutor honoris causa pela Universidade de Coimbra, professor titular e emérito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e da Universidade Federal Fluminense (UFF), além de titular da cadeira nº 16 da Academia Brasileira de Filologia (ABF), Evanildo Bechara, aos 83 anos, ainda leciona no curso de pós-graduação de Ensino de Língua Portuguesa oferecido gratuitamente no Liceu Literário Português. Defensor da língua portuguesa, ele argumenta, nesta entrevista, que o linguista não pode ocupar o lugar do professor de língua portuguesa na educação básica.   


LEIA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA

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