Marcia Carmo
De Buenos Aires para a BBC Brasil
Se antes eles tocavam apenas em lugares pequenos e afastados de Buenos Aires, agora se apresentam nos principais teatros da capital, como o Alvear, e participam de festivais, como o que acontece nos próximos dias na Província de Mendoza. Eles também fizeram parte das comemorações do mês do Brasil na Argentina, com um show na embaixada brasileira em Buenos Aires, em setembro.
Eles são músicos profissionais, que estudaram nos conservatórios locais e formaram bandas como A Saidera, Mistura e Manda, Mão na Roda e Malandragem.
O saxofonista Emiliano Álvarez, de 35 anos, disse à BBC Brasil que é claro o novo interesse pela música "não comercial" brasileira."O axé, por exemplo, sempre faz sucesso por ser mais comercial. Mas agora percebo interesse crescente aqui por outros estilos que não são tão conhecidos do grande público, como o choro", disse.
Álvarez é um dos fundadores da orquestra A Saidera, fundada há cerca de dois anos. "Samba, baião e choros são os estilos musicais da nossa orquestra”, contou. Ele disse ainda que gosta tanto de Pixinguinha, Ari Barroso e Cartola que pode ouvi-los "sem parar".
O músico conta que foi num conservatório de Buenos Aires, onde entrou aos 13 anos, que conheceu os colegas com os quais integra a banda, que tem 18 integrantes. "Foi um começo lento, mas conseguimos arranjos de músicos do Hermeto Pascoal, compramos outros e fomos aprendendo desenvolvendo o estilo juntos."
Férias no Brasil
Ele afirmou que passou a se interessar pela música brasileira a partir de shows na capital argentina de músicos como Egberto Gismonti e que a sua lista de referências musicais inclui Ney Matogrosso, Marisa Monte, Chico Buarque, Toninho Horta e Djavan.
"Somente há pouco tempo viajei de férias para o Brasil. Viajo mais para estudar a música brasileira do que de férias", disse.Álvarez conta que ele e outros colegas de banda fizeram cursos e workshops em Curitiba com músicos e professores locais, e que A Saideira é inspirada a na Orquestra À Base de Sopros, conhecida banda da capital paranaense.
Já Sebastián Luna, deficiente visual, toca cavaquinho na banda Mão na Roda, que lançou no ano passado um CD de choros, com a participação do arranjador brasileiro Rogério Souza.
E por que o nome "Mão na Roda"? "Porque significa uma forma de ajudar e porque a palavra roda também está ligada à roda de samba", conta o músico Sebastián Pérez, de 30 anos, toca violão, é arranjador e compositor do grupo. "Não temos nada parecido com essa expressão em espanhol."
Amor à primeira vista
A banda é formada por quatro músicos, que tocam pandeiro, violão de sete cordas, flauta, cavaquinho e bandolim. "Nos conhecemos num conservatório de música e tínhamos interesse pela música brasileira. Mas conhecíamos, principalmente, a bossa nova e não o choro. Quando conheci os choros de Pernambuco, achei que era o caminho. Foi amor a primeira vista", disse Pérez.
Eles também viajaram para os cursos de música em Curitiba. "Meus pais ouviam João Gilberto e desde adolescente me interesso pela música brasileira. Mas o choro agora nos abre muitas portas. Estamos compondo choros e frevos e transformamos um tango, El Choclo, em maxixe (a música que pode ser ouvida no player acima)."
O também músico Gabriel Trucco, do grupo Mistura e Manda disse que os atraiu a "linguagem riquíssima" de músicas de Pixinguinha, Jacob do Bandolim e de Paulinho da Viola. "Sempre ouvimos muita MPB na Argentina. Mas quando ouvimos estes músicos vimos que podíamos explorar, aprender e crescer".
O Mistura e Manda tem sete anos e o nome, contou Trucco, é o título de um choro do compositor Nelson Alves. "No início deste ano lançamos o CD Choro Vivo, que inclui choros tradicionais e contemporâneos", disse.
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