Por Rodrigo Casarin - Revista da Livraria Cultura
O
escritor americano Paul Theroux é, desde a infância, apaixonado por
trens. E em tamanha proporção que transformou em livros as experiências
que viveu sobre os trilhos e nos lugares nos quais parou. De sua vasta
obra, destaca-se O grande bazar ferroviário
(esgotado), publicado originalmente em 1975 e que leva o leitor para
uma viagem de Londres à estação central de Tóquio, aventurando-se por
boa parte do sul do continente asiático. A publicação é um clássico do
gênero literário que vem, cada vez mais, se renovando e ganhando novos
autores e admiradores: a narrativa de viagem.
O
estilo, já consagrado na literatura, tem como ramificação um braço não
ficcional, no qual os escritores – necessariamente autores e
protagonistas – realmente vivenciam tudo aquilo que relatam na
história. “Um bom livro desta modalidade apresenta a jornada do viajante
não apenas pelo aspecto espacial, mas também temporal, explorando os
tempos psicológico, sociológico e histórico, dentre outros, que
caracterizam a experiência do observador quando ele se movimenta por um
ambiente que não é o seu”, explica o professor Renato Modernell,
pesquisador do assunto e autor de Em trânsito – Um ensaio sobre narrativas de viagem.
No Brasil, onde o gênero foi inaugurado por Hipólito da Costa Pereira – ele lançou, no final do século 18, Diário da minha viagem para Filadélfia
–, o mais renomado escritor de narrativas de viagens é o navegador Amyr
Klink, que relatou suas aventuras marítimas em cinco livros, dentre
eles o famoso Cem dias entre céu e mar.
Contudo, quem tem o trabalho mais numeroso é o jornalista gaúcho
Airton Ortiz, autor de mais de dez livros relatando suas experiências.
A
obra de Ortiz pode ser dividida em duas partes: na primeira, o
escritor aventura-se em expedições em meio à natureza. “Escolho um
desafio e transformo em pauta. Apenas o tema é fruto da minha
imaginação”, explica. São desta fase Aventura no topo da África, que narra sua subida ao cume do monte Kilimanjaro; Em busca do mundo Maia, uma descoberta da América Central; e mais oito livros que integram a coleção Aventuras radicais.
A segunda fase é dedicada às cidades, das quais surgem as histórias da série Expedições urbanas, que já tem os livros Havana e Jerusalém.
Neles, o autor retrata sua vivência na região por meio de crônicas.
“Meu objetivo é fazer com que o leitor se sinta como alguém que tenha
morado no local.”
Outra publicação do gênero lançada há pouco tempo é Terramarear – Peripécias de dois turistas culturais,
escrita por Ruy Castro e por sua esposa, Heloisa Seixas. O título traz
histórias das viagens que os dois fizeram nas últimas décadas. Quem
também uniu cidades e aventuras foi o escritor paulistano Antonio Lino,
que, ao longo de um ano e três meses, morou dentro de uma Kombi e
percorreu quase todo o Brasil. De sua experiência nasceu Encaramujado,
um apanhado de contos e crônicas sobre as pessoas que conheceu e os
lugares por onde passou. “Quando o leitor me relata suas impressões, é
como se ele assumisse o volante da Kombi e eu fosse no banco do
passageiro, admirando uma viagem que já não é mais minha”, conclui.
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