Hélio Consolaro*
As pessoas mais antigas de
Araçatuba, principalmente as mais ricas, tinham o costume de perguntar a uma
pessoa que se apresentava nova numa roda:
- Qual é a sua família?
Pergunta própria de quem
classifica as pessoas pelo número de fazendas que possuem, pelo
saldo na conta bancária, cujo critério de valor é o TER em vez do SER. Essa é a
Araçatuba antiga que muita gente lamenta ter se descaracterizado.
E quem lamenta, às vezes,
com muita saudade daquele tempo, são pessoas que nem sempre tem “um gato para
segurar pelo rabo”, como se diz no populacho.
Araçatuba mudou,
degradou-se, como dizem. Chegou ao ponto de buscar um deputado federal de
Mirandópolis para ser o prefeito, governando a cidade por oito anos, sendo
cassado.
Em 2008, Araçatuba ficou
sem lideranças para disputar a eleição: o tucano Dilador e o petista Cido Sério
(ambos desconhecidos) e Dunga (odiado). Nestas condições, o PT de Cido Sério
ganha as eleições. PSDB bem votado no centro da cidade, e o PT estourando nos
bairros.
A prosa mudou de rumo, o
poder mudou de mão. Aí surgiu uma pergunta maldosa por parte dos araçatubenses
centenários: Quem é este Cido Sério? Não frequenta clubes, não pertence à nossa
turma? Mora em Araçatuba? Ou é um forasteiro?
Cido Sério é membro da
família Silva, digníssima família de Luís Inácio Lula da Silva, sem consoantes
dobradas. Vivia anonimamente nos bairros de Araçatuba, mas que não se submeteu
ao fatalismo socioeconômico de que a pobreza determina automaticamente o futuro das pessoas. Sua mãe, Dona
Teresa, passou de inquilina de casas de fundo à mãe do prefeito de Araçatuba.
Se o leitor pesquisar atas
de sindicatos e organizações populares de Araçatuba, cartórios eleitorais, vão
achar o nome dele por várias vezes. Seu nome nunca apareceu em colunas sociais
antes de ser deputado e prefeito.
O sobrenome Silva tem
história: a origem do sobrenome é controversa, mas tudo indica que tenha
surgido no Império Romano para denominar os habitantes de regiões de matas ou
florestas - silva, em latim, é "selva".
“O linguista Flávio di
Giorgio, da Pontifícia Universidade de São Paulo, lembra outro fator que pode
ter ajudado a popularizar o Silva. Segundo ele, os portugueses que atravessavam
o Atlântico recebiam acréscimos ao sobrenome original. "Quem ficava no
litoral incorporava o Costa; quem ia para o interior ganhava o Silva, de
Selva", explica. Como a maioria dos escravos era de fazendas do interior,
o Silva se espalhou ainda mais após a abolição."
No dia 07 de outubro de
2012, o poder administrativo de Araçatuba será devolvido ao povo, para que cada
eleitor se manifeste. A vitória do prefeito Cido marcará um novo ciclo na
história de Araçatuba, tanto no campo político como no econômico. Todos os
sobrenomes terão vez, com letras simples ou obradas. O primeiro mandato
foi uma mostra disso.
Ninguém mais vai perguntar
qual é o sobrenome de sua família. Receberá apenas uma afirmação: “Você é filho
de Deus, portanto é meu irmão”.
Hélio Consolaro é
professor, jornalista, escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura
de Araçatuba-SP
5 comentários:
Tens ums filhos de Deus que sei não. São mais filhos....vivem trocando voto por trecos. Já começou.
Po, eu sou COSTA e vim parar no interior. Cecete!
Parabéns, Hélio! Belíssima crônica. Você soube traçar com inteligência e objetividade o atual cenário político do nosso Município.
A foto é linda. Dê o crédito dela, Consa! Abração.
Não vou entrar no campo político. Afinal, faz anos e anos que me mudei de Araçatuba, mas por força da profissão que aí exercia. VAMOS AO CAMPO SOCIAL. Um fato nunca me deixou a lembrança. Um grande amigo meu brincou um dia dia com um meu conhecido, e dele também. Meu amigo, gente de bem, cara honesto, exemplar pai de família, fez a tal brincadeira com o conhecido, próspero e rico pecuarista que tinha uma filha ainda pequenina. Disse o meu amigo a ele: "Está vendo aqui o meu filho - que era ainda pequenino, frequentava o Jardim da Infância - pois então, está sendo preparado para se casar com a sua filha." Depois, o tal conhecido - que não posso chamar de amigo - veio desabafar comigo; "Crente aquele sujeito, hem? Querendo casar o filho dele com a minha filha! Será que ele não vê que é um pé rapado?". E disse coisas mais que não vale a pena citar neste comentário.
Consa, você é demais, sô. Falou a verdade mais verdadeira que possa existir. Daí o meu desabafo.
Gabriel Araújo dos Santos - Campinas SP
Eu me emocionava assim por 20 anos enquanto pagávamos por um terreno e, pedaço por pedaço fomos construindo nossa própria casa apenas com meu salário e o de minha irmã (ambos 10% mais que o mínimo) e continuo me emocionando enquanto aos poucos vamos substituindo os móveis que comprávamos usados e até eu própria fabricava. Aprendi, no Regime Militar, que cada um tem grande responsabilidade sobre seu próprio progresso na vida. Aprendi a não depender da caridade alheia (nem do governo) e nem achar que merecesse coisa pela qual não "trabalhei" e "economizei para possuir. Vejo muita gente fazendo churrascos e festas, andar na moda em roupas, bijouterias, móveis e até carro ter e depois sendo agraciado pelas "bolsas" do governo. Isso é o que me revolta, não acho justo. Vi também muita gente melhorando de vida e até enriquecendo à custa de muito trabalho e agora ser enfiado no mesmo saco dos exploradores e herdeiros "de berço". E isso também não é justo. Muitos tem "sido sérios" enquanto galgam as escadas do poder, mas quando chegam no topo trocam de lado, viram "amigos de infância" de coronéis, banqueiros e da nata empresarial. Passam a estrangular os verdadeiros trabalhadores para forrar seus bolsos e os dos companheiros e, para disfarçar, distribuem uma boa parcela em forma de benefícios como se beneplácitos fossem. E viram mitos idolatrados... santos de pau oco que a história e a justiça divina ainda porá nos devidos lugares!
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