Hélio
Consolaro*
Em
novembro de cada ano, levanta-se a tese de que o Brasil possui muitos feriados. Com
certeza, não são os sindicatos de trabalhadores que fazem o alarde, mas os
patronais. Para quem leu alguma coisa sobre o ócio, sabe que se o trabalho
fosse bom, ninguém fugia dele, quem o defende como meio para buscar a dignidade
humana são as pessoas em posição de comandar o trabalho alheio.
Durante
o feudalismo, monarquia, o trabalho era uma atividade imprópria para os nobres,
não dignificava ninguém. Todos aqueles que trabalhavam com as mãos eram
desvalorizados. No Ocidente, isso permanece até hoje, pois quem trabalha
limpinho, de terno e gravata ainda é mais valorizado do que o trabalho braçal.
Veja quanto ganha um lixeiro...
Com o liberalismo, surgiu a máxima: o
trabalho dignifica o homem, como forma de combater o ócio do antigo regime,
praticado pelos nobres. Há um ditado popular: “O ócio é o pai de todos os
vícios”. Na época em que surgiu essa afirmação, o mais prejudicial à sociedade
era o avarento, que vivia escondendo o dinheiro no colchão, debaixo da cama, não
o pondo para circular. Diferente do poupador moderno que aplica o dinheiro no
sistema financeiro.
Essa pichação de que o
Brasil é o campeão de feriados e férias começou com o empresário Antônio
Ermírio de Morais, dono de um império, com uma multidão de trabalhadores
construindo a riqueza dele. Nessa tese, estão embutidos os interesses
patronais.
Conforme a revista Época,
entre férias e feriados, países europeus disparam na frente. Brasil está na 6ª
posição em férias mais longas e na 8ª em número de feriados. Alguns chegam a
dizer descaradamente: “O que querem os pobres com esses feriados? Eles deviam
estar trabalhando”. É o espírito da casa grande em relação à senzala que ainda
predomina entre nós.
Vivemos numa sociedade cuja
civilização é a judaico-cristã, que tem uma política do ócio bem definida:
descansar no sétimo dia. Fazer uma reflexão, praticar a contemplação, pôr sua
leitura em dia no domingo. Ócios do ofício. Atualmente, há uma ganância de mercado posta em
prática de trabalhar até no “Dia do Senhor”.
Além disso, hoje há a
indústria cultural, as atividades de turismo, empresas do próprio sistema
econômico que lucram com o ócio, precisam dos feriados e das férias dos
trabalhadores. O setor comercial, por exemplo, acha que se fecharem as lojas, o
dinheiro do consumidor vai sumir. Afinal, o dinheiro é como a água, é a mesma
quantidade que está em circulação.
“A noção de que atividade
boa é aquela que produz lucro constitui uma completa inversão da ordem das
coisas” – afirma o filósofo Bertrand Russell no seu livro “Elogio ao ócio”, Editora
Sextante. O lucro no sistema capitalista é um meio, não é um fim em si mesmo.
Não se junta dinheiro para ter uma boa aposentadoria, como o avarento, que
depois de velho, não sabe se divertir. Precisamos trabalhar e viver bem simultaneamente.
A vida é um processo.
*Hélio
Consolaro é professor, jornalista, escritor. Atualmente é secretário municipal
de Cultura de Araçatuba-SP
Um comentário:
O patrão defendo o dia útil, não é porque ele adora trabalhar, e sim, porque ele precisa produzir para honrar os compromissos. Se os trabalhadores não produzem, não tem como fazer jus ao estipendio. Existe uma grande diferença entre "mostrar serviço" e ser produtivo. O setor publico adora decretar ponto facultativo, porque a procrastinação faz parte dessa cultura de "mostrar serviço". Cada cidadão tem a atividade compatível com sua aptidão. Somente através da produtividade um povo consegue supera suas crises. Amém!
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