Hélio
Consolaro*
Ter
a noção de que seja parte do universo, um grão de areia, uma coisa
insignificante, tem várias consequências na vida de uma pessoa: aceitar a
morte, por exemplo.
O
egocêntrico se acha o centro do mundo, que tudo começou e vai acabar com ele.
Não tem noção de conjunto em lugar algum: no serviço, na escola, na família,
não renuncia a nada em favor do todo. Ele ainda não descobriu que na casa do
universo, somos apenas um tijolinho.
Todas
as mensagens de Jesus, principalmente as perdidas, que não foram registradas na
Bíblia, são cosmológicas. Cito algumas que chegaram até nós: “Os últimos serão
os primeiros”. Quem se sentir o último, com humildade (sem humilhação), será um
sujeito que viverá tranquilamente, entende a todos, sem ambição, não valoriza
as convenções sociais. Perder? “Perco agora, mas ganho depois. Ainda há tempo.”
Outra
frase cristã: é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um
rico ir para o céu. Nós inventamos interpretações para essa frase, encontramos
metáforas, não a aceitamos. Na verdade, a riqueza pessoal, acúmulo de poder, é
um exemplo evidente de egocentrismo, puxa o rodo para si, quer tudo, não abre
mão. O negócio é ter e mandar. Perder?
Nunca. Estar errado, jamais.
Já
que Rubem Braga disse que ser cronista é viver em voz alta, passo agora para a
primeira pessoa. Não sou isso nem aquilo, sou eu. E procuro ouvir em mim a voz
de dentro. Seria a voz de Deus? Não sei, assim vou buscando minha centralidade,
sem perder o eixo. Troco botinadas, discordo, mas nunca deixo de ver o outro
como irmão. E vejo os conflitos, que não sejam para tirar a vida, necessários.
Também não gosto de escondê-los debaixo do tapete, fazer de conta que não
existem. Que o pus supure.
A
franqueza é problemática, machuca, enquanto a hipocrisia é menos dolorida, como
escrevia Machado de Assis. Mas com a franqueza construo grupos, monto equipes,
tenho a confiança de adversários. Passo a ser um louco confiável.
Morrer
é saber a hora de partir. A peça gasta precisa deixar o todo para não
comprometê-lo. Na verdade, somos expelidos. E o egocêntrico não quer morrer,
vai de arrasto, segurando nas coisas, com vontade de ficar.
Não
sei, caro leitor. Talvez na hora de chegar a minha hora, descobrirei que sou
também um egocêntrico. O pregador é um sujeito corajoso, ele move montanhas,
mas também pode ser uma semente chocha. Ele corre mais o risco de ser
hipócrita.
*Hélio
Consolaro é professor, jornalista, escritor. Exerce atualmente a função de
secretário municipal de Cultura de Araçatuba – SP.
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