AGENDA CULTURAL

30.7.15

Hóspedes do mundo

Tharso José Ferreira*

Vou abrir minha coluna hoje com um assunto nauseante, um caroço duro no meio do angu do mundo: o estado islâmico, que vem colorindo os desertos de vermelho rublo com suas atrocidades que trouxeram à moda cortar pescoço de gente do jeito que minha mãe, lá no passado, cortava pescoço de frango para nossas macarronadas dominicais, meu pai se lambuzava de tanto gosto. Lembro-me  disso quando os muçulmanos mostram para o mundo, via rede social, imagens magníficas em alta definição de homens degolados junto ao ventarrão do deserto. Bem, se as coisas continuarem assim, sinto dizer, não teremos motivos para termos saudades do futuro. Os magarefes de faca molhada de sangue querem um califado para chamarem de seu e por conta de atormentada proposta pisoteiam na farinha humana. Jogam bombas em mesquitas, seus ninhos sagrados, implodem monumentos eternos, sapateiam em cima de implacáveis Budas milenares, tudo sob as grandes asas da religião, mãe de todas as guerras. Se tem alguma coisa que Deus deve ter se arrependido, além de inventar o homem, é de ter deixado os homens inventarem religiões, para mim não existe coisa pior que fé, o firme propósito daquilo que não se vê. Tenho por mim que não deve ter nenhum ateu nos exércitos muçulmanos, nem no Vaticano.

Os generais de Obama, que se creem aves libertadoras de pátrias, estão de bico calado, perdidos neste pântano de sangue, lapso da história caminhada, sem conselho neste samba de crioulo doido que virou o planeta pisoteado. Luta com religioso armado não tem lógica, é bater num muro de ignorância. Não dá para deter um soldado indômito tomado pela ideia que não tombará ao pó e sim que será arrebatado para o céu cortando o pescoço dos incréus a ferro.

A revolução iluminista de Montesquieu fez morrer o vinagre ardente da Igreja Católica e seus sacerdotes malucos que atrasaram o mundo em 1.600 anos. Usaram a precisa ferramenta da filosofia refinada e determinação política. Agora a versão é mais sinistra. É gente que dão vivas a morte com o horror das facas e com passos firmes num projeto de dominação alicerçada na barbárie e no medo. Estamos irremediavelmente ferrados! Vão arrebentar com nosso mundo com a ajuda de Alá o Deus com sua corneta celestial cujo único profeta é Maomé, Jesus é um profeta menor humilhado em suas próprias palavras de dar a outra face.

Agora dá para entender nossa miséria neste mundo, com dois Deuses dividindo a bola da terra? Meia dúzia de alucinados cheios de orgulho instantâneo humilhou a França filosófica matando homens no meio da rua para alcançarem a salvação. Estou convencido, é um mal momento da história do mundo onde os homens de bem são frouxos, incruéis, meio afeminados e com síndrome do pânico. Se consolam vendo pela web os corpos sendo elegantemente degolados do outro lado do mundo, ficam com os olhos cheios de uma fascinação covarde diante da chacina da fé muito bem filmada com produção refinada onde os atores morrem de verdade causando inveja aos narcotraficantes do México. Lamentam a violência e reagem com oração, “estamos orando”, ouvi de um líder religioso aqui da cidade, “é o que temos pra hoje”, acrescentei irônico enquanto via sentado em sua sala luxuosa vendo a ilustre faca deslizar no pescoço de manteiga do homem vestido de cenoura que deixava este mundo com as mãos amarradas para trás, “estamos orando”, pano de fundo para “antes ele do que eu”, e aliviamos nosso medo com oração cheio de torpor, mas conformados diante das cabeças decepadas e amontoadas nas pedras.

No fundo estamos curtindo o espetáculo dos homens decapitados lá longe, trazidos pela rede, enquanto nossos líderes religiosos enriquecem com o dízimo sagrado das velhinhas medradas do fogo do inferno, juntos e misturados como farinha humana do mesmo saco os homens que fazem uma política arcaica, tribal, que criam leis para prender nossas crianças mal educadas, enquanto outros estupram 45.000 mulheres por ano em números oficiais, mutilamos a Amazônia, árvore por árvore. Perdemos tempo perseguindo minorias do mesmo saco. Ficamos brincando de governar enquanto o sangue espirra lá e cá com a mesma intensidade, com a morte vinda de todos os lados e diante deste narcisismo besta, via salvação, que vira egoísmo puro enquanto o outro existe apenas como espetáculo numa imagem de alta definição que insensibiliza nossas crianças, farinha humana do futuro, desesperançam nossos velhos e no fundo deste saco ninguém sente nada neste abatedouro de gente decapitada, estuprada, num matadouro sem cancela e nem nos preocupamos em achar uma solução, “estamos orando”.


Que venham os Muçulmanos com suas facas amoladas, rindo da própria morte para terem suas virgens no céu, pois enquanto houver religião não haverá paz no saco.

*Tharso José Ferreira é escritor e membro da Academia Araçatubense de Letras

Nenhum comentário: