Tharso José Ferreira*
Vou abrir minha coluna hoje com
um assunto nauseante, um caroço duro no meio do angu do mundo: o estado
islâmico, que vem colorindo os desertos de vermelho rublo com suas atrocidades
que trouxeram à moda cortar pescoço de gente do jeito que minha mãe, lá no
passado, cortava pescoço de frango para nossas macarronadas dominicais, meu pai
se lambuzava de tanto gosto. Lembro-me
disso quando os muçulmanos mostram para o mundo, via rede social,
imagens magníficas em alta definição de homens degolados junto ao ventarrão do
deserto. Bem, se as coisas continuarem assim, sinto dizer, não teremos motivos
para termos saudades do futuro. Os magarefes de faca molhada de sangue querem
um califado para chamarem de seu e por conta de atormentada proposta pisoteiam
na farinha humana. Jogam bombas em mesquitas, seus ninhos sagrados, implodem
monumentos eternos, sapateiam em cima de implacáveis Budas milenares, tudo sob
as grandes asas da religião, mãe de todas as guerras. Se tem alguma coisa que
Deus deve ter se arrependido, além de inventar o homem, é de ter deixado os
homens inventarem religiões, para mim não existe coisa pior que fé, o firme
propósito daquilo que não se vê. Tenho por mim que não deve ter nenhum ateu nos
exércitos muçulmanos, nem no Vaticano.
Os generais de Obama, que se
creem aves libertadoras de pátrias, estão de bico calado, perdidos neste
pântano de sangue, lapso da história caminhada, sem conselho neste samba de
crioulo doido que virou o planeta pisoteado. Luta com religioso armado não tem
lógica, é bater num muro de ignorância. Não dá para deter um soldado indômito
tomado pela ideia que não tombará ao pó e sim que será arrebatado para o céu
cortando o pescoço dos incréus a ferro.
A revolução iluminista de Montesquieu
fez morrer o vinagre ardente da Igreja Católica e seus sacerdotes malucos que
atrasaram o mundo em 1.600 anos. Usaram a precisa ferramenta da filosofia
refinada e determinação política. Agora a versão é mais sinistra. É gente que
dão vivas a morte com o horror das facas e com passos firmes num projeto de
dominação alicerçada na barbárie e no medo. Estamos irremediavelmente ferrados!
Vão arrebentar com nosso mundo com a ajuda de Alá o Deus com sua corneta
celestial cujo único profeta é Maomé, Jesus é um profeta menor humilhado em
suas próprias palavras de dar a outra face.
Agora dá para entender nossa
miséria neste mundo, com dois Deuses dividindo a bola da terra? Meia dúzia de
alucinados cheios de orgulho instantâneo humilhou a França filosófica matando
homens no meio da rua para alcançarem a salvação. Estou convencido, é um mal
momento da história do mundo onde os homens de bem são frouxos, incruéis, meio
afeminados e com síndrome do pânico. Se consolam vendo pela web os corpos sendo
elegantemente degolados do outro lado do mundo, ficam com os olhos cheios de
uma fascinação covarde diante da chacina da fé muito bem filmada com produção
refinada onde os atores morrem de verdade causando inveja aos narcotraficantes
do México. Lamentam a violência e reagem com oração, “estamos orando”, ouvi de
um líder religioso aqui da cidade, “é o que temos pra hoje”, acrescentei
irônico enquanto via sentado em sua sala luxuosa vendo a ilustre faca deslizar
no pescoço de manteiga do homem vestido de cenoura que deixava este mundo com
as mãos amarradas para trás, “estamos orando”, pano de fundo para “antes ele do
que eu”, e aliviamos nosso medo com oração cheio de torpor, mas conformados
diante das cabeças decepadas e amontoadas nas pedras.
No fundo estamos curtindo o
espetáculo dos homens decapitados lá longe, trazidos pela rede, enquanto nossos
líderes religiosos enriquecem com o dízimo sagrado das velhinhas medradas do
fogo do inferno, juntos e misturados como farinha humana do mesmo saco os
homens que fazem uma política arcaica, tribal, que criam leis para prender
nossas crianças mal educadas, enquanto outros estupram 45.000 mulheres por ano
em números oficiais, mutilamos a Amazônia, árvore por árvore. Perdemos tempo
perseguindo minorias do mesmo saco. Ficamos brincando de governar enquanto o
sangue espirra lá e cá com a mesma intensidade, com a morte vinda de todos os
lados e diante deste narcisismo besta, via salvação, que vira egoísmo puro
enquanto o outro existe apenas como espetáculo numa imagem de alta definição
que insensibiliza nossas crianças, farinha humana do futuro, desesperançam
nossos velhos e no fundo deste saco ninguém sente nada neste abatedouro de
gente decapitada, estuprada, num matadouro sem cancela e nem nos preocupamos em
achar uma solução, “estamos orando”.
Que venham os Muçulmanos com suas
facas amoladas, rindo da própria morte para terem suas virgens no céu, pois
enquanto houver religião não haverá paz no saco.
*Tharso José Ferreira é escritor e membro da Academia Araçatubense de Letras
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