AGENDA CULTURAL

19.1.17

Praia e chuva

Consa, Helena, Áurea e o sobrinho Thiago
Hélio Consolaro*

Há uma frase feita que percorre os lábios da população de que pobre, quando vai à praia, chove o tempo todo, parecendo haver um encontro das condições meteorológicas com as socioeconômicas.

Se você não sabe, caro leitor, o mar que é uma coisa tão comum para o caiçara, não é conhecido por metade dos caipiras, ou seja, dos interioranos paulistas. Se for fazer uma pesquisa de campo, vamos encontrar que 50% da população de Jales, por exemplo, não conhecem mar.

Eu mesmo fui conhecer mar já adulto, não tive uma família que passasse as férias com papai, mamãe, irmãozinhos, vovô e vovó numa casa de praia. Aliás, vim conhecer a palavra férias na escola.

O roceiro conhece trabalho interrompido pela chuva que vem coroar a sementeira ou interromper a colheita, por isso, gosto da chuva porque era o tempo em que a família ficava em casa, e eu conhecia mais de perto meu pai.

Nesta semana de chuva ininterrupta (16/01/2017), saímos em quatro num carro e fomos para o litoral paulista numa segunda-feira: três aposentados e um jovem trabalhador em férias, parente dos três, mas que fazia as vezes de motorista.

Afinal, dirigir no Rodoanel não é para qualquer caipira. Viemos assoviando, rindo, contando piadas, fazendo todo o percurso debaixo de chuva. Crentes de que ela cessaria assim que chegássemos ao mar.

E não cessou. Já estamos na quinta-feira. Só não pedimos comida pelo telefone, porque saímos de casa e fomos à praia mesmo com chuva, quando o guarda-sol vira guarda-chuva.
 
Áurea, Helena e Consa no pier de Mongaguá
Estou tendo, caro leitor, a oportunidade de conhecer uma cidade praieira debaixo de chuva. De dizer que o mundo é pequeno, mas o mar é grande. Não vi o sol, apenas nuvens escuras no céu, nada de muvuca e nem fila. Apesar da falta de gente, o preço das coisas é como se estivéssemos em pleno verão, com praia cheia. Tudo é caro.

Se a cidade fica feia, as mulheres ganham a mesma condição, pouco colírio para os olhos, multiplicam-se as raimundas. Corpo escultural, e rosto de bruxa.

A Helena, minha esposa, para brincar, dizia:

- Ó, trem bom!

Eu e meu sobrinho, carentes de um colírio para os olhos, voltávamos logo para ela:

- Cadê?   

Era homem, porque bicho bom para mulher é homem. Que frustração.
Passarela de Anchieta - Itanhaém-SP

Outra experiência positiva desta nossa viagem é a casa que nos arrumaram graciosamente. Isso mesmo, ando fazendo turismo alternativo. Casa boa, interessante, mas não fica no setor turístico da cidade, estamos no bairro onde moram os trabalhadores do turismo: terrenos 5m x 40m, que às vezes tem carros na garagem que não condizem com a condição econômica do bairro. Minha Casa, Minha Vida abaixo de três salários mínimos. Andamos bastante para chegar à praia.

Ao terminar este texto, ainda não conheci o sol desta cidade, ela está parecendo meu pai em tempo de chuva na zona rural, dentro de casa, bravo porque estava estragando a colheita.


*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras.

Um comentário:

fraciscosousa disse...

Nós tivemos melhor sorte em João Pessoa. Sol das 05h até 18h.