Consa, Helena, Áurea e o sobrinho Thiago |
Hélio Consolaro*
Há uma frase feita que percorre os lábios da população de
que pobre, quando vai à praia, chove o tempo todo, parecendo haver um encontro
das condições meteorológicas com as socioeconômicas.
Se você não sabe, caro leitor, o mar que é uma coisa tão
comum para o caiçara, não é conhecido por metade dos caipiras, ou seja, dos
interioranos paulistas. Se for fazer uma pesquisa de campo, vamos encontrar que
50% da população de Jales, por exemplo, não conhecem mar.
Eu mesmo fui conhecer mar já adulto, não tive uma família
que passasse as férias com papai, mamãe, irmãozinhos, vovô e vovó numa casa de
praia. Aliás, vim conhecer a palavra férias na escola.
O roceiro conhece trabalho interrompido pela chuva que vem
coroar a sementeira ou interromper a colheita, por isso, gosto da chuva porque era o tempo em que a família
ficava em casa, e eu conhecia mais de perto meu pai.
Nesta semana de chuva ininterrupta (16/01/2017), saímos em
quatro num carro e fomos para o litoral paulista numa segunda-feira: três
aposentados e um jovem trabalhador em férias, parente dos três, mas que fazia
as vezes de motorista.
Afinal, dirigir no Rodoanel não é para qualquer caipira. Viemos assoviando, rindo, contando piadas, fazendo todo o percurso debaixo de chuva. Crentes de que ela cessaria assim que chegássemos ao mar.
Afinal, dirigir no Rodoanel não é para qualquer caipira. Viemos assoviando, rindo, contando piadas, fazendo todo o percurso debaixo de chuva. Crentes de que ela cessaria assim que chegássemos ao mar.
E não cessou. Já estamos na quinta-feira. Só não pedimos
comida pelo telefone, porque saímos de casa e fomos à praia mesmo com chuva,
quando o guarda-sol vira guarda-chuva.
Estou tendo, caro leitor, a oportunidade de conhecer uma
cidade praieira debaixo de chuva. De dizer que o mundo é pequeno, mas o mar é grande. Não vi o sol, apenas nuvens escuras no céu,
nada de muvuca e nem fila. Apesar da falta de gente, o preço das coisas é como
se estivéssemos em pleno verão, com praia cheia. Tudo é caro.
Se a cidade fica feia, as mulheres ganham a mesma condição,
pouco colírio para os olhos, multiplicam-se as raimundas. Corpo escultural, e rosto de bruxa.
A Helena, minha esposa, para brincar, dizia:
- Ó, trem bom!
Eu e meu sobrinho, carentes de um colírio para os olhos,
voltávamos logo para ela:
- Cadê?
Era homem, porque bicho bom para mulher é homem. Que frustração.
Outra experiência positiva desta nossa viagem é a casa que
nos arrumaram graciosamente. Isso mesmo, ando fazendo turismo alternativo. Casa
boa, interessante, mas não fica no setor turístico da cidade, estamos no bairro
onde moram os trabalhadores do turismo: terrenos 5m x 40m, que às vezes tem
carros na garagem que não condizem com a condição econômica do bairro. Minha Casa,
Minha Vida abaixo de três salários mínimos. Andamos bastante para chegar à
praia.
Ao terminar este texto, ainda não conheci o sol desta
cidade, ela está parecendo meu pai em tempo de chuva na zona rural, dentro de casa,
bravo porque estava estragando a colheita.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras.
Um comentário:
Nós tivemos melhor sorte em João Pessoa. Sol das 05h até 18h.
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