AGENDA CULTURAL

14.4.17

Lições pra direita sobre Golpes

Este artigo é excelente, deve ser lido, apesar de longo, principalmente para quem conhece um pouquinho de história do Brasil.



Por Rodrigo Peres Oliveira

Que esse golpe sirva, pelo menos, pra ensinar algo para as próximas gerações de golpistas. 

Chego mesmo a achar que os golpistas de ontem e de hoje prestariam um bom serviço ao país se tivessem escrito um tipo de tutorial, para ensinar aos golpistas de amanhã o que não deve ser feito.

Não fizeram; nem pra isso serviram.

O pior das nossas elites nem está no fato de elas serem escrotas; não daria para esperar outra coisa de uma classe senhorial que foi forjada nos corredores da Casa Grande.

O pior das nossas elites é que elas são burras, são incompetentes, não aprendem com seus próprios tropeções. 



O PSDB não aprendeu nada com a UDN; Aécio Neves,  Aloysio Nunes e FHC não aprenderam nada com Carlos Lacerda.

Já que é assim, dou eu, então, duas liçõezinhas aos golpistas do futuro. 

Rapidinho, é facil fácil aprender.

Lição 01

Tentem, se possível, não dar golpes. Esse negócio é trabalhoso e quase sempre dá merda.

Tá, tá, eu sei que é chato perder eleição; sei que ora ou outra esse tal "povo" prejudica os esquemas.

A democracia seria ótima, não fosse o povo, né não?

Enfim, da próxima vez, tenham um pouquinho mais de paciência. Invistam na desestabilização do governo eleito e esperem, com calma.

Se os golpistas de hoje tivessem deixado Dilma no governo, ela faria tanta groselha, mas tanta groselha, que vencer em 18 seria mais mole que sentar no pudim.

Mas não, se precipitaram, fizeram a coisa à moda caralho, e agora uns aloprados sem nenhuma sensibilidade social estão no poder, passando o trator por cima das expectativas da galera; expectativas que foram ampliadas ao longo desses anos iniciais do século XXI.

Resultado? 

A popularidade de Dilma cresce e Lula encarna a defesa dos direitos sociais e trabalhistas, que são sagrados no imaginário da maioria dos trabalhadores brasileiros.

O antipetismo já não é mais tão forte como era há seis meses; o cenário mudou. 

Lição 02

Se depois de muito pensarem, vocês, golpistas do futuro, decidirem que é mesmo necessário o golpe, tenham prudência, pelo amor de Deus.

Saibam fazer esse negócio; se espelhem nas caneladas de seus pais e avós.

Só golpeiem se for possível golpear com suas próprias mãos; jamais terceirizem o golpe.

Percebam só o que aconteceu com a UDN e com o PSDB.

Os dois partidos, cansados de perder nas urnas, resolveram fortalecer corporações que fossem capazes de fazer o trabalho sujo, que levassem a cabo a intervenção golpista.

A UDN, bobinha, achou que controlaria o Exército; achou que os milicos iriam tomar o poder, limpar a porra toda, jogar o nacional-desenvolvimentismo na lata do lixo da história e devolver a criança, cheirosinha, de banho tomado.

Depois que os milicos sentaram na cadeira, gostaram tanto do estofado que passaram a ter agenda própria; Lacerda, então, foi mordido pela cobra que criou e teve que sair saindo, ou, como costuma falar a galera além túnel, “meter o pé” do Brasil.

Se fodeu!

Saldo do golpe de 64 para a UDN: os milicos não devolveram o poder e ainda por cima, na maior parte dos seus 21 anos, reproduziram um tipo de gestão do Estado muito semelhante ao mesmo nacional-desenvolvimentismo que fazia Lacerda e sua trupe suarem frio.

Ou seja, os que deram a partida no carro do golpe acabaram sendo atropelados por ele.

O PSDB, ignorando solenemente a cagada da UDN, caiu no mesmo erro.

É que desde a década de 1990, o PSDB tem uma obsessão: acabar com a Era Vargas.

Nem os militares acabaram com a Era Vargas.

Como já ensinou o velho bruxo, esse é o problema das ideias fixas: elas embebedam os sentidos.

Bêbados pela ideia fixa, no calor de uma frustrante derrota eleitoral, o PSDB terceirizou o golpe, aparelhando o judiciário e a Polícia Federal.

Coitado do PSDB; esqueceu que o judiciário e a Polícia Federal são formados por concurseiros, por bacharéis, pelos bisnetos dos Senhores de Engenho.

O PSDB foi cabaço ao achar que essa elite da terra  se contentaria com o papel de coadjuvante, de mero instrumento.

O carro do golpe saiu do controle, parceiro, e mais uma vez a cobra mordeu a mão que lhe criou.

Resultado?

O PSDB só perdeu com o golpe; tal como aconteceu UDN há 50 anos. É muita incompetência.

Com seus principais quadros torrados, o PSDB não consegue mais capitanear sozinho o antipetismo convicto, tendo que dividir essa fatia de mais ou menos 25% do eleitorado brasileiro com o bolsonarismo.

Ah, mas o PSDB se deu bem porque a crise fez nascer o dorismo!

Grave engano, pequeno tucano.

O dorismo tem lógica própria, nega a política, não respeita acordos.

O dorismo não é PSDB; o dorismo é dorismo.

Não à toa, FHC tá arrancando os pentelhos, puto com João Dória, que no alto da sua megalomania trumpeana diz um sonoro “foda-se” para o príncipe dos liberais.

Dória, adolescente punheteiro que chegou ontem no cabaré, tá dizendo um grande “foda-se!” para FHC, a mais rodada entre as putas velhas.

Olhem o tamanho da merda. É muita incompetência!

Percebendo a caquinha que fez, o alto clero tucano tenta reconstruir o alinhamento político, que estava funcionando relativamente bem, com base na polarização PT X PSDB e com o PMDB fazendo as vezes de pêndulo.

Agora, os tucanos buscam a galera da Perseu Abramo, FHC defende Lula em depoimento.



Mas agora é tarde, infelizmente; Prometeu já se desacorrentou, os juízes tão dando o tom do jogo político e, com a exceção de Sérgio Moro, não estão mais respeitando os antigos acordos.

Agora, um grupinho de meia dúzia de vinte e poucos funcionários da PF vai lá e pá! Fode o esquema do agronegócio.

Não adiantou matar o juiz; Jucá errou. A sangria não foi estancada, e não vai estancar.

Agora, em cada delegacia da PF, em cada saleta do MP, tem bacharel querendo ser o salvador da pátria, sonhando com a capa da Isto É, querendo ser o novo homem do ano.

Os caras querem aparecer no Jornal Nacional.

Ninguém segura mais essa gente.

Se pelo menos o PSDB tivesse aprendido algo com a UDN; se pelo menos Aécio, FHC e cia tivessem se mirado no exemplo de Lacerda.

Resta a esperança de que os golpistas do futuro sejam, pelo menos, mais competentes, um tantinho mais inteligentes.

(Artigo colhido do WatsApp do Dr. José Maria Ortiz.)

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