AGENDA CULTURAL

30.5.17

O Brasil é maior que nossas mesquinharias


Hélio Consolaro*

Vou ser neste texto essencialmente político, mas sem usar o jargão desgastado dos políticos, tanto da esquerda como da direita.

"As pessoas estão desanimadas com política" - afirmou o sociólogo Sérgio Sanches, 67 anos, em entrevista ao site da BBC de Londres. Ele manifestou o seu desejo: "Eu gostaria de ver uma explosão social, gostaria de ver o povo na rua, completamente indignado, não aparelhado, realmente disposto a ir às últimas consequências, se necessário, para mudar a situação," mas a indignação está paralisando a cidadania.

Isso acontece principalmente com quem se sentiu manipulado, lutou com unhas e dentes pelo impeachment da presidenta Dilma Roussef, acreditando que a saída dela e o afastamento do PT seria o remédio para a cura do Brasil. Quando descobriram que tudo não passava de politicalha, as lideranças do impeachment eram piores.

Há uma grande parcela de desiludidos entre os eleitores do PT também. Uma parte porque acreditou em que só o partido era corrupto, debitou todas as desgraças brasileiras na conta do partido de Dilma. A mídia não proporcionou o pensamento crítico.

A outra parte petista dizia que não valia a pena votar, pois puseram Dilma na presidência e tiraram-na sem acusação convincente. Foi um impeachment fabricado, nada jurídico. Votar para quê? O povo põe, os adversários derrotados afastaram-na.

Nessa luta inglória, a grande derrotada foi a cidadania, o respeito pelo outro e a intolerância. Não sinto nenhuma pena da situação desesperadora em que se encontra Aécio Neves e Michel Temer. O primeiro disseminou o ódio no Brasil entre aqueles que pensavam diferente, o segundo foi oportunista, um traíra.   

Não vale a pena agora, que somos todos derrotados, um lado ficar insultando o outro, porque pertencemos a uma nação e ela precisa ser preservada, o regime democrático é a nossa maior riqueza. A saída não está no aeroporto, porque por lá também as coisas não estão boas. A solução é olhar para dentro do Brasil, nos olharmos.

Seria bom que surgisse alguém neste momento, com moral para isso, que chamasse às falas todos os brasileiros, que conseguisse nos unir. Não queremos um ditador, um salvador da pátria. Pena que o Papa Francisco não é brasileiro.

A união seria baseada numa proposta mínima que satisfizesse os dois lados. Continuar com Temer ou escolher o novo presidente por eleição indireta, sendo votado por aqueles parlamentares vendilhões da pátria, não é a saída.  

Não estamos propondo que todos pensem igualmente, somos diferentes, mas está na hora de esquecer as diferenças e pensar naquilo em que nos une.

Em vez de nos nos separar, precisamos nos unir, pensar mais no todo nesse momento. O Brasil é maior que nossas mesquinharias, a vida é maior que a política.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras.

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