Alice Silva*
Lua cheia, redonda, prateada. Bola lindamente projetada no
céu negro, magnífica, soberana, rainha da noite. Marina ficou um bom tempo ali,
no seu quintal, a contemplar a lua. Nas mãos, um saco de pães quentinhos e uma moeda de um real: tudo que havia
sobrado do seu salário.
Mas as contas, que beleza! Todas pagas. E agora, pela
frente, viriam ainda vinte dias até receber o próximo salário. Uma roupa nova,
um bom sapato, há muito tempo não comprava. Porém a patroa, sempre renovando o
guarda roupa, e vestindo o mesmo manequim dela, lhe abastecia dos artigos semi
novos de boas marcas.
Agora a lua refletia numa poça d’água do quintal e seu
brilho prateado lhe transportou para bem longe dali.
Estava frente ao mar, era noite, uma brisa suave lhe acariciava os cabelos, e a lua lhe emprestava o brilho, as estrelas chegavam e perguntavam o nome seu... Ela contava os meses, os dias, para realizar o sonho de conhecer uma praia.Havia um calendário pendurado na parede do seu quarto.
Estava frente ao mar, era noite, uma brisa suave lhe acariciava os cabelos, e a lua lhe emprestava o brilho, as estrelas chegavam e perguntavam o nome seu... Ela contava os meses, os dias, para realizar o sonho de conhecer uma praia.Havia um calendário pendurado na parede do seu quarto.
Com
um marcador, ia fazendo bolas em torno dos dias , comemorando um dia a menos
para sua tão sonhada viagem. Pagava uma
excursão com certa dificuldade. Quando atrasava uma parcela, ficava triste,
como alguém que precisa de um remédio para viver e não consegue comprá-lo.
O organizador da excursão era um homem compreensivo, que levaria aquela moça até de graça, pois a conhecia desde criança, e tinha um carinho muito grande por ela.
O organizador da excursão era um homem compreensivo, que levaria aquela moça até de graça, pois a conhecia desde criança, e tinha um carinho muito grande por ela.
Mas contemplava o esforço dela, lhe dizendo que ficasse tranquila, que um
pequeno atraso ele perdoava. Um biquíni preto, de bolas brancas, pouco usado
pela patroa lhe foi dado: experimentava a peça de vez em quando, com receio de
ganhar peso e não poder usá-lo. Mas ganhar peso, era um pouco difícil, com a
correria e escassez de recursos que
enfrentava todo dia.
Enquanto sonhava , havia muito chão a limpar, muita louça a lavar, choro de criança a acalentar. A patroa, cada dia mais fútil, resolvera aderir a duas bolas de preenchimento nas bochechas. Todas as suas amigas estavam fazendo o procedimento: ela não poderia ficar de fora! O marido não aprovou o resultado: ficou artificial demais, desnecessário.
Enquanto sonhava , havia muito chão a limpar, muita louça a lavar, choro de criança a acalentar. A patroa, cada dia mais fútil, resolvera aderir a duas bolas de preenchimento nas bochechas. Todas as suas amigas estavam fazendo o procedimento: ela não poderia ficar de fora! O marido não aprovou o resultado: ficou artificial demais, desnecessário.
Olhava para ela e meneava a cabeça em total desaprovação. Sobrou
para Marina o azedume da senhora, que
não entendia o por quê de tanta implicância ultimamente com tudo que fazia naquela casa.A mulher precisava era
tratar o caráter, mas não: a aparência contava muito mais no meio em que
convivia.
Alguém tinha que aguentar o mau humor dela.Nos encontros semanais com
as amigas siliconadas, loiras e com luzes nos cabelos e nenhuma iluminação no
cérebro, sobrava um balde de conversas
fúteis, vazias.
A primeira que virava as costas e ia embora, imediatamente era
alvo de comentários maldosos, inconvenientes, das demais. Chamavam isso de “
encontro semanal das amigas” .
Marina observava, apenas, enquanto servia o
chá, o suco, sempre atenta ao olhar da patroa: não podia perder o emprego. O
curso noturno que fazia, que lhe daria uma melhor qualificação no mercado de
trabalho, estava longe de ser concluído.
Ora bolas, o tempo estava passando, e
era preciso viver! Havia um objetivo a alcançar, e pensando assim, foi embora
cantarolando “amanhã/ vai ser outro dia”...
*Alice Maria, escritora, membro do Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras
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