Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
No mundo do ter, capitalista, subir e descer fica mais visível. Neste setor, a vida se parece mais a uma gangorra. Alguns ficam ricos e outros, pobres. Mas não é sob esse prisma que o assunto será abordado.
Como já estou na velhice, a perspectiva de tempo fica mais larga e distante, dá para ver o movimento de algumas personalidades desde o início. Numa cidade como Araçatuba-SP, com 200 mil habitantes, observar a mobilidade social fica mais fácil.
Na cidade, em décadas, os graúdos ficaram médios, miúdos. Qualquer afortunado queria ter gado no pasto numa pecuária extensiva. Quem tinha loja de um quarteirão, se reduzia a três portas. Ainda há algumas mansões, mas a maioria está nos condomínios, verticais (um apartamento por andar) e horizontais. Costumam dizer que o dinheiro mudou de mão.
Naquela época, em Araçatuba, vivia, exercendo a função de inspetor de aluno em escola pública um tal Chaim Zaer. Como bom libanês (naturalizado), partiu para o setor privado, resolveu montar um cursinho pré-vestibular na rua Joaquim Nabuco, quase colado à Praça Rui Barbosa. Meu mano Alberto Consolaro fez o cursinho Prevê (do Chaim) sendo aluno do antigo IE e ingressou na Odonto de Araçatuba.
Em 1979, fui do corpo docente OBJETIVO, de quem Chaim era franqueado nas séries do ensino de segundo grau, num prédio da avenida Brasília, onde funciona atualmente a concessionária da Honda, mas ele já estava com cursinho em Andradina, expandindo. A escola promovia shows dos expoentes da MPB na década de 70-80 no ginásio de esportes Plácido Rocha ou teatro da Nipo. Atravessou o ribeirão Baguaçu e ganhou o mundo.
Chaim Zaer |
Naquele ano, foi inaugurada a rádio Cultura FM (07/09/1979), corolária da AM. Chaim mandou instalar alto-falantes no pátio para que alunos ouvissem "boa música" no intervalo, o chamado recreio.
As rádios de frequência modulada eram a coqueluche da época. A rádio mais antiga de Araçatuba é a Cultura AM (07/09/1939). A família Fares era dona das duas que funcionavam no mesmo prédio, na rua Oswaldo Cruz.
Agora, depois de magnata da revista Forbes, Chaim resolveu comprar justamente a Rádio Cultura FM, 95,5 e todo o sistema Rádio Nova Brasil, que só toca MPB biscoito fino, como as antigas FMs. E está mudando a Nova Brasil de Birigui para Araçatuba.
Não sei se Chaim Zaer leu a minha crônica de 31/03/2018 deste blog: Rádio Nova Brasil em Birigui. Como? Agora, se perguntarem "Rádio Nova Brasil em Araçatuba. Como?", eu posso responder: o proprietário do sistema é de Araçatuba. Afinal, temos um endinheirado por aqui que investe em educação e comunicação.
Para você, caro leitor, saber o motivo de meu espanto é só ver onde estão as emissoras do sistema Nova Brasil: Birigui (agora, Araçatuba), Brasília, Campinas (SP), Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo (emissoras próprias) e Aracaju, Fortaleza e Maceió (afiliadas). Só capitais.
O Chaim Zaer infla sua fortuna, e eu, com orgulho besta, me entusiasmo com a frutinha araçá.
Comentários de Gabriel Araújo dos Santos - Bié, escritor - atual morador de Campinas-SP, com mais de 80 anos de idade
Caríssimo, boa tarde.
Vamos logo ao assunto.
Certa feita o Chaim apareceu lá na gerência do Banco Real,
onde eu trabalhava...
- Gabriel, vim te pedir um favor, e sei que não vai me
negar. Você tem um bom relacionamento com um número enorme de pessoas aqui na
cidade, e até mesmo fora daqui, e achei que você vai poder me ajudar. Estou
montando um curso a que dei o nome de "Cursos Brasília", e fica ali
na rua Joaquim Nabuco, naquela casa onde o seu Banco funcionou por muitos anos.
Pois é, agora é uma escola. Destina-se àquelas pessoas que não tiveram
oportunidade de fazer o curso ginasial e o colegial, e como você é muito bem
relacionado, achei que poderia me ajudar nisto aí, e eu trouxe uma caderneta,
deixo aqui com você, você anota o nome e
também o telefone, assim eu posso entrar em contato com os interessados.
Enquanto ele
falava eu ficava pensando com meus botôes, e me concentrava tanto que teve hora
ele achou que eu estava incomodado com o pedido dele, e me pedia para não o
levar a mal. Explicou quando ia começar a funcionar, os horários e até as
épocas para os futuros alunos prestarem os exames em Araraquara, que ele já
havia mantido contato com aquela cidade, e até já providenciado reserva, valor
a ser pago, coisas assim.
Pois bem. Ele
me passou a tal caderneta, e na primeira página e na primeira linha já anotei o
nome de um forte candidato a fazer o colegial, e a seguir anotei outros e outros
nomes com os respectivos telefones. Falei para ele: "Olha, deixa aqui
comigo, e dentro de uns quatro ou cinco dias pode vir pegar. Mas já anotei uns
nomes aí.
Mais que
depressa pegou caderneta e se assustou!
- Mas, mas, Gabriel, você? - O que tenho eu?
- Não acredito! Ele ficou espantado! Meu nome foi o primeiro da lista,
candidato ao curso Colegial.
- Mas Gabriel, você
demonstra ter curso superior, tal seu palavreado, seu raciocÍnio. Já escutei
suas falas na Rádio. Vi a notícia de que você fez uma palestra no Salesiano!!!!
E aquela propaganda que você gravou a pedido do Genilson sobre a fábríca de
colchões do Nelson Pires?Cê tá brincando, num é possível!!!
O certo é que
me matriculei no bendito Cursos Brasília, fiz o Colegial, fui a Araraquara,
prestei os exames (dois dias de duração), fiz o vestibular na Toledo de Ensino
e me formei em Administração de Empresas, que muito me valeu para minha
matrícula, sem vestibular, no Instituto de Línguas da Unicamp.
Um dia o
Genilson me procurou para eu fazer um texto sobre os Colchões Brasília, da
fábrica do Nelson Pires. Fiz, e quando li para ele, ele levou um susto! Gabriel, será que você, eu tenho gravador,
pode gravar pra mim,mas com a sua voz?
Achei que fosse brincadeira dele. Mas não. Gravei, e foi um sucesso.
Teve amigos meus que vinham entusiasmados me cumprimentar, a dizer que naqueles
confins do Mato Grosso, Aparecida do Tabuado, Cassilândia, Paranaíba e em
outros lugares ouvia aquilo pelo rádio do carro. E não cobrei nada. Mas um dia,
quando fui pagar uma de minhas prestações de um terreno que eu compra do
Nelson, ele quitou duas de um vez, e ainda me agradeceu, dizendo da alavancagem
das vendas depois da propaganda. O início da propaganda era assim: "A História narra que os homens primitivos habitavam em
cavernas, viviam semi-nús e tinham como leito peles de animais estendidas sobre
o próprio solo!!!.
}Ainda sobre o Chaim, eis o que aconteceu aqui em Campinas.
No primeiro dia das nossas reuniões
liteterárias aqui em Campinas, quando cada participante se apresentava, fui o
penúltimo a fazê-lo, e foi quando apresentei meu currículo, e como não podia
deixar de ser, falei sobre o famoso "Cursos Basília", a dizer que se
estava ali naquela hora foi por obra e graça de um moço de muita visão, e
contei o caso. Vi, quando eu discorria sobre o meu currículum, que um moço
parecia inquieto, mostrando jeito de que desejava me interromper, mas de forma
muito educada. Logo terminei a fala veio o último a se apresentar, e foi rápido
e rasteiro, a dizer que até que me invejava, e que gostou muito de minha
história. Houve um ligeiro intervalo, e o tal moço que não desgrudara a atenção
sobre a minha pessoa, levantou ligeiro e veio em minha direção.
Resumo: Era de Bauru, e isto ele já falara na sua exposição.
Coincidência: Foi o pai dele que, junto com o Chaim, que fundaram o Cursos
Brasília. Mas o pai, segundo ele, não viu nenhum futuro naquilo, e alguns meses
depois se desligou da sociedade com o Chaim.
Eu mantinha
ótimo relacionamento com o Sr.Nicolau, proprietário de uma das rádios de Araçatuba. E também com
o genro dele, cujo nome me foge agora da lembrança. Pois bem. Meu filho deu de
desenvolver uma cultura de coco anão em nosso sítio em Espírito Santo do
Pinhal, e a notícia correu longe. Num certo dia eu lá me achava, e o caseiro
veio me avisar que havia um senhor pedindo se podia lhe mostrar
o coqueiral. Chamei-o para entrar, e depois das apresentações veio um
cafezinho e a prova começou a rolar. Resumo: Anísio Fares, poeta, morava no
litoral paulista, apaixonado pela área rural. Ele se declarou poeta quando viu
um livro (antologia) em cima de uma mesinha próxima onde proseávamos, e nesta
antologia consta um conto de minha autoria, sobre Castro Alves. E ali há também
um conto - Volta e Meia -
de Renata Pacola. Aí, rapaz, a prosa desandou feito
enxurrada ladeira abaixo.
Quando falei que havia residido quase vinte anos em
Araçatuba, ele me perguntou se seu cheguei a conhecer o sr. Nicolau, da rádio.
Primos, rapaz! Primos! Aí me contou um mundão de casos gosados. E mais ainda,
ao folhear a antologia - Castro Alves Poeta da liberdade - ele exclamou:
"Olha minha grande amiga aqui, a Renata!!!". Interessante,
a Renata foi certa vez premiada no concurso "Prêmio Escriba de
Contos de Piracicaba", e fui um dos jurados, e nos tornamos amigos,
cheguei até a votar nela para deputada estadual. Tem mais, viu! Quando falei do lugar de Minas
onde nasci, Sêrro, seu Anísio explodiu de alegria, e aí passou a me contar os
anos e anos em que esteve naqueles rincões
a pesquisar orquídeas, e o povo do lugar achava que era um doido.
Mostrou a foto da homenagem de um determinado órgão oficial da Inglaterra pela
sua descoberta de uma orquídea, e que está exposta em Londres, que leva o seu
nome. Anoiteceu, o proseio da noite foi uma belezura, e a visita ao coqueiral
ficou para o dia seguinte...
Estas as minhas histórias, caríssimo Consa, e muitas delas
devo ao Chaim...
Meu sincero e saudosíssimo abraço.
Bié, O Prosador.
2 comentários:
Araça City como referência de residência sempre perdendo fábricas, indústrias e aquela belezura do Sesc.
Fico feliz tbm com melhores investimentos na educação e Cultura.
Meu comentário é para confirmar o dito "diga-me com quem andas,que te direi quem tu és". Sou amigo de todos, mesmo dos que não conheço. Não custa nada ser sincero e reto no seu proceder, e assim fui, assim sou e assim continuo ser. Vejam como aqueles encontros, aqueles proseios me proporcionaram novos amigos, motivos para nos alegrar, e tudo aquilo veio aqui parar, neste conceituado BLOGUE DO CONSA, deixo a ele, o CONSA, meu sincero e saudoso abraço.
Postar um comentário