O professor, escritor e filósofo Clóvis de Barros Filho, em suas palestras, observa que a ética nos oferece uma excelente oportunidade de superar a nossa convivência de hoje. E isso se dá no mundo real da vida. Há alguns anos em qualquer salão de eventos tinha avisos de “proibido fumar”, indicando até o número da lei que proíbe fumar em lugares fechados. Mas hoje, nem avisos nem gente fumando. Temos que admitir que a convivência mudou, e não pela intervenção de uma força transcendente qualquer. Mudou porque nós deliberamos, discutimos, argumentamos, e chegamos à conclusão de que, nesse mundo que compartilhamos, é melhor que não se fume em lugares fechados.
Veja o que é interessante: a ética no fundo apresenta um grande problema, que é um certo desajuste entre a convivência que queremos para nós e as pretensões individuais (ou mesmo de grupos) que atentam contra em nossa aspiração coletiva. A ética se torna um problema toda vez que se exige que alguém adote uma estratégia, um protocolo ou uma conduta contrárias à sua vontade particular, a fim de não agredir o que entendemos ser a melhor convivência possível. Aí fica fácil perceber que, no final das contas, a ética é uma espécie de triunfo da convivência sobre as vidas particulares, é uma espécie de vitória da vontade geral sobre a vontade de cada um. E nesse sentido, é preciso entender que a ética só tem razão de ser porque temos certa liberdade para escolher como queremos conviver e para definir o modelo de convivência que pretendemos pra nós, ou os princípios que pretendemos respeitar.
As formigas, por exemplo, também convivem e interagem, mas não há ética no formigueiro, porque a ação das formigas é definida, inexoravelmente, pelo seu instinto, pela sua natureza. Então, não há o que aperfeiçoar no formigueiro. No nosso caso, a ética parte da premissa de que a convivência, a interação, pode ser diferente do que é, pois temos a prerrogativa de aperfeiçoar e buscar uma solução de convivência que supere a de hoje. Eis aí que proponho à reflexão: que não nos limitemos a constatar como as coisas são, mas que a reflitamos sobre o “dever-ser”, sobre o que poderia ser diferente e que não é, sobre o que poderia ser melhor do que é.
E a ética diz respeito a isso.
Por fim, deixo a pergunta: estamos vivendo com ética na pandemia covid-19
Gervásio Antônio Consolaro, ex- delegado regional tributário do estado/SP, agente fiscal de rendas aposentado. Administrador de empresas, contador, bacharel em Direito e pós-graduação em Direito Tributário. Curso de Gestão Pública Avançada pelo Amana Key e coach pela SBC.
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