Os dias 25 se não forem especiais são, ao menos,
marcantes. Talvez pelo meu interesse por política e história (uma é a
continuação da outra) tenho alguma fixação pela data. Fatos do dia 25 de meses
e anos diferentes, é claro, marcam a história recente desse mundão. São de 25
de abril dois fatos históricos, que tornaram inesquecíveis duas
pessoas que nada têm a ver com eles.
Foi em 25 de abril de 1974 que a Revolução dos Cravos triunfou em Portugal, botando por terra o regime salazarista, uma ditadura fascista que governou o país-irmão por 41 anos. Veteranos da guerra civil em Angola e Moçambique, então colônias portuguesas, tinham se arriscado pela pátria e de volta para casa descobriram “o viver sem razão”. A guerra era injusta e o futuro incerto. Botaram os tanques nas ruas, desfilaram pela capital Lisboa com cravos na boca dos fuzis. O regime não pagou para ver.
Chico Buarque homenageou a Revolução dos Cravos com as músicas “Tanto Mar” e “Fado Tropical”, a segunda em parceria com o cineasta Ruy Guerra, nascido em Moçambique. “Capitães de Abril” é um filme que conta a história da revolução romântica, mas nem tanto para o meu vizinho comerciante que viera ao Brasil trabalhar, ganhar dinheiro para em seguida ir a Portugal buscar os pais idosos.
Influenciado pelo êxodo do empresariado simpático ao salazarismo, o vizinho passou a lamentar dia e noite que não mais poderia buscar seus velhos, pois os comunistas haviam tomado o país e quem lá estava não saía e quem saísse não voltava. Mal sabia o pobre lusitano que a data passou a ser feriado em seu país, quando se celebra o Dia da Liberdade.
Exatamente dez anos depois, em 25 de abril de 1984, o Congresso Nacional brasileiro sepultava as “Diretas Já”, que mobilizou milhões de brasileiros no maior movimento de massa espontâneo e verdadeiramente patriótico da história do País. Foram inúteis a voz de Fafá de Belém, a cantora oficial do Hino Nacional nos comícios pela “Diretas Já”, os manifestos de artistas e intelectuais progressistas, a promessa de Sócrates de não ir jogar no exterior e os apelos de toda uma nação. A ditadura militar brasileira, então com 20 anos, ao contrário da salazarista, resistiu (generais e demais milicos trazem no peito medalhas em lugar do coração).
Os anos correram e nos “bailes da vida” tive a oportunidade de trabalhar com duas pessoas nascidas em 25 de abril de anos distintos. A secretária Márcia Buzati e o executivo do setor de bioenergia Antônio César Salibe. Sempre linquei o nascimento deles aos acontecimentos de Brasil e Portugal. Por isso, nunca esqueço do aniversário de ambos. E olhe que lá se vão mais de 20 anos. Márcia não sei por onde anda. Salibe, como sempre, enterrado no trabalho. Neste ano, descobri que a escritora Marianice Pauptiz Nucera também é de 25 de abril. Aos três, muita paz, liberdade e felicidade já.
(*) Antônio Reis é jornalista e ativista do Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras (AAL).
2 comentários:
Muito bom texto e muito oportuno,afinal estamos passando um período ruim ,que teve e 2epidemias antecedentes á esta.Deve ser coisa de milico,pois me lembro de ambas,ignoradas pela ditadura.Na 1ª,ignorando totalmente e proibindo a imprensa de noticiar,apesar de milhares de mortes.Mas eram apenas os pobres!Em 1973 morreu o irmão da redatora da Agência onde eu trabalhava,rapaz de apenas 17anos.Foi nessa época que a ditadura receando que a morte chegasse á classe alta,já que agora começava a atingir a classe média,fez alguma coisa!A 2ª epidemia,teve Sabin,na ONU denunciando-o por querer ignorar um fato! E nova mente a ditadura teve que aceitar sua existência e fazer algo.E temos esse presidente atual, que ignora tudo,evidencias e classes sociais atingidas!Euclides
Texto leve e livre, gostoso de ler!
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