A dança do xaxado |
Eram almas separadas: lá a sua mãe, cá suas lágrimas, ambas semeavam a dor da saudade.
Meu pai tinha um disco do Luiz Gonzaga. Um vizinho invejoso pediu-o emprestado e nunca mais lhe devolveu.
Vivia procurando as rádios nordestinas para ouvir a voz da terra de onde ele emergiu, ouvindo os pássaros bem próximos da sua janela.
Por sorte ele conseguia ouvir alguns nordestinos nas rádios do Rio de Janeiro com o som bem nítido.
A sua maior decepção foi quando pôde ir ao Piauí, mas sua mãe havia partido, deixando-lhe uma tristeza tão grande no peito como uma dor do parto.
Eu nasci em Araçatuba, interior de São Paulo, mas toda cultura do Piauí foi esculpida a ferro e fogo dentro de nossas almas.
Tudo era motivo pra matar a saudade, da comida com aquele feijão enriquecido com carnes e até milho. Ele preparava mandioca pra fazer bolo de puba.
E quando tocava um forró, arrastava um xaxado na sala. Aquele homem da voz alta e falar rápido tinha o Piauí morando no seu coração.
Não tinha como a gente não chorar de ver um enorme sofrimento estampado como símbolo marcado na sua vida
Por sorte, ele nos dava amor, nunca deixou sua família um dia sequer passar necessidade.
Oxente! O velho Piaulino, ou seja, senhor Antônio Piaulino, às vezes, o Senhor Piauí, cabeça chata era assim o homem que nos honrou com seu nome.
Suas lágrimas do suor, do trabalho, eram como as águas do Piauí brotando em Araçatuba.
Nenhum comentário:
Postar um comentário