AGENDA CULTURAL

31.8.22

Anja, Capitu e Janja

 

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Acompanhe a letra: 

Olha que coisa bem-vinda no meio da praça 
Só dá essa menina e o que quer que ela faça
É sempre um avanço pra reanimar

Olha que coisa bem-vinda no meio da praça
Só dá essa menina e o que quer que ela faça
É sempre um avanço pra reanimar

É uma anja zelando
Pelo som de cada dia
É uma anja criando melodia

Ela vai murmurando umas palavras
Se gosta do verso para e grava
É hora da turma se encontrar
O que ela quer mesmo é cantar
Já tem uma vida pra contar
E chega lá

Leve e bonita como um anjo
Mas é anja
Quando fica à vontade na sua roda
Dá uma canja
Se a conversa é Stravinsky ou Leminski
Ela manja
Pra quem quer simpatia, logo esbanja

Olha que coisa bem-vinda no meio da praça
Só dá essa menina e o que quer que ela faça
É sempre um avanço pra reanimar

É uma anja lutando
Por mais tempo de alegria
É uma anja que tem filosofia

Ela acha que ouvir é que é legal
Acredita no ouvido musical
E diz que essa praça é o seu lugar
E a todos que venham pra cantar
Não há mais motivo pra esperar
E chega mais

Leve e bonita como um anjo
Mas é anja
Quando fica à vontade na sua roda
Dá uma canja
Se a conversa é Stravinsky ou Leminski
Ela manja
Pra quem quer simpatia, logo esbanja

Olha que coisa bem-vinda no meio da praça
Só dá essa menina e o que quer que ela faça
É sempre um avanço pra reanimar

Leve e bonita como um anjo
Mas é anja
Quando fica à vontade na sua roda
Dá uma canja
Se a conversa é Stravinsky ou Leminski
Ela manja
Pra quem quer simpatia, logo esbanja

Olha que coisa bem-vinda no meio da praça
Só dá essa menina e o que quer que ela faça
É sempre um avanço pra reanimar

Olha que coisa bem-vinda no meio da praça
Só dá essa menina e o que quer que ela faça
É sempre um avanço pra reanimar

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP 

Conheci o compositor e cantor Luiz Tatit, depois descobri que é também professor de Linguística da USP, ouvindo a música "Capitu", que ele fez em homenagem à personagem de Machado de Assis. 

Dando aula de Literatura, fui buscar algo na internet para motivar os alunos à leitura de "Dom Casmurro", eis que me encontro com o Luiz Tatit.  E assim fiquei fã do cara.

Lá atrás, quando a internet era discada, não estava nos celulares, este idoso professor já usava a rede como instrumento didático. Inclusive para descobrir se o aluno havia copiado o seu trabalho de algum site, como a gente fazia nos tempos idos: copiava das enciclopédias. Quem contesta o novo sempre sai perdendo. 

Quando os puritanos não querem usar feminino para "presidenta" (há muito dicionarizado), o professor da Usp flexiona a palavra "anjo", usando "anja". Chamar uma linda mulher no masculino, verdadeiramente é um desperdício. 

Nos tempos do Parnasianismo, chamariam essa permissividade de adotar a forma menina de "anjo" num texto de "licença poética". Nos tempos da linguística, trata-se de o poeta incorporar o português errado e gostoso do povo, como versejou Manuel Bandeira.

Segundo o autor, "Anja" é uma paródia de "Garota de Ipanema". Depois de ouvi-la várias vezes, você, caro leitor, vai se convencer de que é mesmo. Já que morria de inveja de Vinícius de Morais e Antônio Carlos Jobim, Luiz Tatit  se deliciou fazendo uma bela paródia. 

Lula, o político, outro Luís, para dizer que a rima de Tatit está incompleta, se casa com uma anja, chamada Janja. Jamais estaremos completamente atualizados. 

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