AGENDA CULTURAL

16.12.22

De onde vem sua elegância de ser? - Alberto Consolaro

A elegância de ser está no viver e não no ter!
Ei, amigo, como consegue ser cortês e sorrir no meio de tanta grosseria, estupidez e intolerância? De onde vem essa elegância e paciência? Ele discretamente sorri e com olhos marejados disse que explicaria com palavras que escrevi há alguns anos, quando eu estava no meio de tanta adversidade! 

- A elegância vem da dor!”. 

Como diria o caipira: nesta hora “correu um frio na espinha.”

E ele continuou a falar entusiasmado:

- Mesmo assim, não conseguiram me convencer e me deixo levar pela juvenil alegria de acreditar na plenitude do amor e na incompetência do ódio! O coração palpita, as costelas parecem não conter o batimento ao inflar o peito. O abraço dura uma vida inteira, o aperto parece fundir e o roçar sutil induz um orgasmo magnético no frenesi de íons e proteínas inquietas. Permito-me sentir o caos absoluto que fez surgir o universo do nada. Como é bom curtir o big-bang, o expandir do mundo e o doce veneno do amar incondicional. Claro que tem chocolate amargo, Campari picante e jiló frito com cerveja. O amargor da maturidade também deve ter algo bom: curtamos!

Entusiasmado com nosso encontro e conversa, me conta que seu pai lhe dizia: 

-Ame, procure ser feliz e viva intensamente, mas não esqueça que debaixo das melhores camisas, ternos e das gravatas mais lindas sobre a pele macia e sedosa do seu peito, mas dentro dele ficarão hematomas, edemas e ruturas de fibras neurais e cardíacas. A parceria será sempre do amor da paixão com a dor no coração.

Ele teve um pai apaixonado pela vida que lhe disse:

-Tenhas a fibra de um forte e sorriso de um vencedor, mesmo que uma máquina de moer carne trabalhe dentro de você auto processando o tempo todo. Só que dói muito, lhe avisou. A elegância que a dor me deu amigo, me devolveu as fontes de inspiração, o brilho das condutas e o magnetismo da bondade e solidariedade.

RECEITA ELEGANTE

O líquen da mágoa e os musgos da acomodação estão travando as cartilagens. Dobrem os joelhos e deixe os movimentos de vai e vem fazer ondas e picos na glicemia de viver intensamente. Questione se não estás contando e valorizando muito os vis metais, pois seus óxidos intoxicam os canais da sensibilidade! Pergunte a si mesmo: eu sou elegante? Já não estaria na idade de sê-lo?

Todos envelhecerão e muitos têm medo de morrer a qualquer hora, mas deve ser melhor fazer isto feliz do que fazê-lo magoado ou triste! Solte as feras e mostre o furor do menino e adolescente que assassinas a cada dia e a cada mágoa e derrota. Recupere o vigor e a vontade de acertar mesmo que tentando e errando, ainda mais agora que sabes que a elegância vem da dor.  Seja elegante com os que te cercam, inclusive no trabalho.  Os acertos valem muito mais que o maior número de erros. Esta receita é contraindicada para ogros!

CIÊNCIA EXPLICA

A ciência me explica quase tudo. Explica até que o amor é induzido pela oxitocina, que o prazer tem testosterona na veia e que o prazer tem umedecimento químico do cérebro por dopamina, mas não consegue me tirar a vontade juvenil de ser pleno nesta terra. O meu carma deve ser carente de dopamina. Então, que venha sempre a emoção. Eu e meu amigo temos a mesma sina!

É amigo, vejo o seu peito cravejado de medalhas e cada uma, representa um tipo de dor.  Você se equilibra com elegância para que elas não caiam. Vai chegar o dia que viverás sem estas medalhas e mesmo assim não perderás a elegância na arte de viver! Pode acreditar, um dia isso vai acontecer. E obrigado por lembrar o que eu tinha lhe tinha dito: 

- A elegância vem da dor.

Post scriptum: a “elegância de ser” já foi chamada de educação no dia a dia, fino trato, cortesia, simpatia e alegria. 

Alberto Consolaro  

Professor Titular da USP  
FOB de Bauru

consolaro@uol.com.br 


Nenhum comentário: