AGENDA CULTURAL

14.9.06

A morte do coronel

Hélio Consolaro

A vida não é dois pra cá, dois pra lá. Às vezes, aparece gente no meio e atrapalha a dança. Com esse pensamento, quero fazer algumas reflexões sobre o assassinato do coronel Ubiratan Guimarães, acusado de coordenar o Massacre do Carandiru em 1.º/10/1992.

A partir da morte dos 111 presidiários, Ubiratan se elegeu deputado estadual. Seu eleitorado é composto por aqueles que consideram certo aquilo que ele fez ou acham que ele agiu exercendo a função, portanto, não o condenam, ao contrário, queriam que ele fosse laureado pelo poder público.

No início, a imprensa classificou o assassinato de execução do PCC, Poçoçó, Puçuçu. Esse pessoal que ganha a vida com a insegurança da população, inclusive o repórter policial, gosta de superdimensionar os poderes desses comandos para ganhar mais dinheiro.

Para infelicidade da nação que gosta de gritar que lugar de “bandido é na cadeia”, a notícia da morte de Ubiratan deve ter sido uma frustração, porque um coronel valentão, macho, foi morrer com um tirinho de revólver 38. E talvez pelas mãos de uma mulher. Como aconteceu com o PC Farias nas Alagoas.

Com certeza, muitas vozes, a dos parentes dos 111 mortos, devem ter gritado ou pensado diante da notícia:

- Quem faz aqui, paga aqui mesmo!

Também ouvi vozes dizerem:

- Mulherengo sem-vergonha! Era mais bandido do que os 111. Bem feito!

Esta coluna, caro leitor, é polifônica, pois nela todas as vozes têm vez, porque ultimamente ando meio desconfiado de quem de pronto condena os outros. Gosto daquela voz ponderada, que procura compreender, ver os vários lados da questão, encontrar explicações para os comportamentos humanos mais esquisitos, porque todos nós chafurdamos no lamaçal da condição humana.

O deputado Ubiratan não era flor que se cheire. Não sei se escolheu ser assim ou foi levado pela correnteza da vida até chegar nesse bueiro em que seu nome caiu, como acontece também com os bandidos. De policial passou a ser notícia policial, não porque matou mais 111, mas foi assassinado aos 63 anos.

O Carandiru fez parte da vida de muita gente. O coronel Ubiratan, PTB, se projetou com a parte podre da penitenciária, mas o médico Drauzio Varella ganhou fama e dinheiro com o livro “Estação Carandiru” que depois virou filme, mostrando o presídio por dentro.

Percebeu, caro leitor, como se ganha dinheiro com a desgraça humana... Esse é o grande homem, criado à imagem e semelhança de Deus, que garimpa diamantes no mangue.

Não adianta ficar aí gritando por justiça, com essa vestal, a sua vida, e a minha, também não agüenta uma CPI... Então, é melhor perdoar do que odiar. O mundo não tem apenas dois passos, dois pra cá, dois pra lá, porque os dançarinos se trombam no salão.

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