Hélio Consolaro
Se deixar, os ônibus da TUA (Transportes Urbanos Araçatuba) se especializarão em transportar pessoas da terceira idade pra lá e pra cá, como se fosse a gangorra do parquinho.
O pessoal está aturando, siô! A longevidade do brasileiro aumentou significativamente nos últimos 20 anos, embora digam que a coisa esteja preta! Os maledicentes continuam com o mesmo discurso:
- Neste país nada vai pra frente!
Deixemos os pessimistas renitentes. Não percamos o foco: velhinhos de Araçatuba passeiam de graça pela cidade na hora em que der na telha. Melhor do que tê-los na cama, com mal de Alzheimer.
O aposentado se levanta de manhã, faz alongamento, toma café, dá aquela espreguiçada e diz:
- Quem vou visitar hoje?
Todos da casa dão graças a Deus, ele vai dar sossego. Velho rico é uma dádiva; velho pobre é um peso, principalmente pra TUA. Trepa no ônibus (velhinho anda trepando como doido) e vai passear pela cidade, ver parentes, fazer carinhos na amiga que conquistou no Bailão do Januário.
Este mesmo velhinho deve ter dito algum dia para seu filho:
- Quem não trabalhar, não tem direito a comer!
O Estatuto do Idoso diz que o passe livre vale a partir dos 65 anos. Araçatuba, que se antecipou ao estatuto, o tinha estipulado a partir dos 60.
A TUA quer cumprir a lei federal, porque lhe é vantajosa, expulsando falsos velhinhos de seus ônibus. E eles brigam pela lei municipal.
O fiscal da TUA diz no ônibus:
- Você! Passeando de ônibus sem pagar nada!
O cara, sarado, mostra a carteira de identidade e o fiscal diz:
- Você engana bem, heim?
Estou preocupado, caro leitor. Daqui a pouco, este jovem croniqueiro vai poder passear de ônibus sem pagar nada! Que desaforo! Depois de escrever Entrelinhas, claro!
Como a eleição de 2008 está aí, os velhinhos, apesar de frágeis, têm sua força: a língua e o voto, então, os vereadores correram em defesa da terceira idade.
- Senhor, prefeito, pelo amor de Deus! O senhor também é um velhinho!
Ele não gostou muito, mas estava na cara!
Atitude louvável, mas transporte coletivo precisa ser preservado. Não é recomendável inviabilizar a TUA. E nessas condições de passe livre a partir dos 60 anos, Araçatuba não vai conseguir uma concessionária substituta tão facilmente.
O transporte coletivo deveria ser de graça para todos, criando o estado do bem-estar social, mas quem vai pagar as despesas da empresa? Lógico que seriam os cofres públicos, gerando impostos mais altos.
Nada cai do céu. Como dizia minha avó, que nunca andou de TUA: “Do couro sai a correia, meu neto!” E geralmente se dá com a correia no lombo do próprio povo.
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