AGENDA CULTURAL

9.11.06

O pão nosso de cada dia

Hélio Consolaro
O pão está na berlinda, todos falam dele com a medida de vendê-lo por quilo. Nem sempre foi assim, vendido em padaria. Minha mãe sempre fez pão em casa, amassado na munheca, não se pesava nada e nem os vendia, às vezes, presenteava vizinhas com unidades bem grandes.

O homem começou a assar pães há seis mil anos antes de Cristo, na Nova Idade da Pedra. Eram justamente pedras os objetos usados para esmagar as sementes, produzindo uma farinha crua que, misturada com água, se transformava em massa. A massa arredondada era cozida em cima de uma pedra colocada diretamente sobre o fogo. O resultado era um pão duro, de textura bem diferente da que conhecemos hoje.

Como escreveu a leitora Rosana Pinhata: o povo não sabe pedir. Quis o pão por quilo para que não fosse enganado, e o feitiço virou contra o feiticeiro. Todos estão reclamando.

A leitora fez uma paródia da piada do gênio para explicar como o povo age em certos momentos. O cidadão tinha direito a fazer três pedidos ao gênio. E ele os fez:
• Quero muito dinheiro
• Quero todas as mulheres
• Quero que os homens desapareçam da face da Terra.

E num passe de mágica, ele também desapareceu. Um exemplo de erro fatal, o simples fato de no último pedido ele não ter se lembrado de dizer: Menos eu. Assim age o povo.

O povo é assim mesmo: em algumas vezes, fácil de manobrar; noutras, portador de uma grande sabedoria. Às vezes, vota contra si mesmo, como minha amiga que trabalha na área diplomática, ganha dinheiro com isso, ministrando cursos.

Ela me disse que não houve melhor governo do que o de Lula nessa área, porque instituiu concursos, voltou a diplomacia de carreira nas nomeações de embaixadores, mas ia votar no Alckmin. Só lhe perguntei se ia votar contra seus próprios interesses, pois seria uma burrice. Nem sempre o povo é sábio.

Outro exemplo. A classe média lutou para que diminuísse o número de vereadores nas câmaras municipais, porque assim gastos seriam cortados.

Este croniqueiro sempre escreveu que isso seria a maior burrice a ser feita. O Judiciário acolheu o clamor, e a Câmara Municipal de Araçatuba deixou de ter 19 vereadores, agora possui 12. E eis a notícia de 27 de outubro nesta Folha: Câmara de Araçatuba gasta mais com sete vereadores a menos.

Fiquemos no pão da vida, no pão ganho com o suor do rosto, nesse pão comprado a moedinhas na padaria, como está sendo discutido na imprensa.

A venda por quilo é uma medida acertada, esse entrevero inicial passará, até padarias e consumidores se adaptarem. Pelo menos o quilograma é uma medida fácil de ser conferida.

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