AGENDA CULTURAL

2.8.07

Revista Playboy


Hélio Consolaro

O boteco Bate Forte estava com barrigudinhos friorentos. Era cachaça daqui, vinho de lá, ou, então, conhaque Presidente. Faca Amolada e Caneta Louca corriam para atender aos pedidos que vinham aos gritos:

- Uma tigela de caldo de mocotó!

Com o frio medonho, o Dia Nacional da Cerveja se transformou novamente em Dia Nacional da Bebedeira. Faca Amolada pôs no banheiro o famoso alicatinho para que os barrigudinhos puxassem a respectiva maria-mole para mijar.

Cada um, ao chegar, fazia o seu pedido e jogava o seu primeiro gole ao santo Onofre.

Dona Assunta administrava a cozinha, Amelinha ficava no caixa, mais marcando do que recebendo, principalmente em fim de mês que é o fim de mundo. Catando moedas de dez centavos nos fundos de gaveta. Seu Sugiro apareceu, mas não armou sua churrasqueira. Frio demais.

Subversivo, que só bebia cerveja sem álcool, um homem recuperado, mas que não abandonava o Bate Forte por nada, gritou:

- Nei Giron, chegue aqui!

O vereador, que passava pela calçada oposta, apareceu com a revista Playboy debaixo do braço. Todos queriam ver a bandeirinha Ana Paula Oliveira nuinha, mostrando tudo.

- Que mulherão! – dizia Banguelo.

Dona Moranga espiava a revista por cima do ombro do Miltão e sentenciou:

- Com tanta produção e fotógrafo de primeira, até eu fico sensual...

Alguns barrigudinhos riram baixinho. Ouviu-se uma frase balbuciada:

- Transformar abacaxi em maçã é quase impossível.

Miltão e Dona Moranga fizeram cara feia, mas os barrigudinhos continuaram a folhear a revista com olhos ávidos.

Burguês, para desprazer dos barrigudinhos acrescentou:

- Não se entusiasmem, moçada, do que vocês gostam, a bandeirinha come até o caroço!

- Nossa! Um pedaço de mau caminho desse não gosta de homem? – perguntou Banguelo.

Houve um “ó” geral de decepção. Mimoso entrou na conversa:

- Ela é companheira! Eu também não gosto de mulher!

Burguês perguntou ao vereador:

- Essa é a revista que o Malulão folheou lá no Palácio do Riso?

- Não! Lá na Câmara Municipal, a gente estava vendo a revista “Família Cristã”. Aquilo é fofoca, coisa do Consa, o linguarudo...

Um sujeito de barba, meio parecido com Freud, saltou de um quadro do século 19 e gritou:

- Mais respeito com meu amigo! – era o Ventura Picasso.

O bate-boca se generalizou. Faca Amolada gritou:

- Um garrafão de vinho como oferta da casa!

Ventura Picasso deu uma golada na lata de cerveja sem álcool do Subversivo. E tudo voltou à normalidade.

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