AGENDA CULTURAL

13.4.08

Caminho sorridente


Hélio Consolaro

Recebi telefonema de minha amiga Elisabeth Nery, colega de magistério. Na década de 80, lecionamos juntos na escola estadual prof. Genésio de Assis. Além de querer saber o estado de saúde da Japa, comentou sobre meus escritos nesta Folha.

Disse que pensava me conhecer, mas a cada dia eu a surpreendo. Às vezes, segundo Beth, estou uma fera no Ponto Cego, mas na crônica de domingo viro um doce caramelado, como “Valorizar o matagal”, no último domingo. E poderia acrescentar: promove a maior bagunça no sábado, na crônica do boteco Bate Forte.

Outro dia, meu amigo me cobrou tenência:

- Como é, você é contra ou a favor do Malulão? Mete o pau, de repente, elogia o “home”. Que rolo!

Nem contra, nem a favor. Não gosto da arrogância. Este croniqueiro é uma pessoa sem convicção, um barco sem âncora que navega ao sabor das águas. A vida vai me levando, até chegar à loca e desaparecer. A coerência não é meu pelourinho. Como a personagem do conto “A terceira margem do rio”, de Guimarães Rosa, não faço muita questão de chegar às margens.

Os valores universais e os direitos humanos são meus catecismos, porque me amo. Tenho fé, busco a serenidade pelo ceticismo. Não escrevo com as vísceras.

A Beth me conheceu quando eu me orgulhava de ser um idealista; como Dom Quixote, queria consertar o mundo. Já descobri que o mundo me consertou, então, caminhemos.

Escrevo porque preciso, necessidade psíquica e financeira, é por onde me realizo na vida. Sou até “ghost writer”. Nos textos encomendados, não ponho o meu nome. Apenas alugo o meu cérebro e minha experiência, pasteurizo-me.

Não venha me dizer no futuro que eu tinha várias personalidades, não invejo Fernando Pessoa. Sou mais Rainer Maria Rilke: escrever me faz falta.

Machado de Assis escrevia para viver, superou seus problemas manuseando a caneta. Graciliano Ramos, no fim da vida, se arrependeu de ter passado os dias espremendo a vista nos livros.

Não sou nenhum deles, sei de minha insignificância. Se tivesse sido sitiante, roceiro ou coisa parecida, teria também cumprido meus dias, sempre faço a fogueira com a lenha disponível, não corro atrás da mulher ideal.

Estou bem, caro leitor, não se assuste. Não estou à beira do abismo. Sorrio, gosto das pessoas, tenho amigos e, apesar da idade, alimento projetos para o futuro.

Escrevi, primeiro, para ser reconhecido, validado. Depois, para fazer proselitismo. Agora, escrevo por hábito, e agradeço os leitores e as pessoas por me tolerarem. Pelas linhas de meus textos, caminho sorridente.

Um comentário:

Beatriz Nascimento disse...

Adorei essa crônica, me faz sentir em Araçatuba...
Ótimo dia pra ti^^