AGENDA CULTURAL

24.8.08

A vida passou a sorrir

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Hélio Consolaro

Cumprimentei uma colega de serviço por seu aniversário com uma frase impensada:

- Muita força para enfrentar a vida!

Como se a vida fosse inimiga. Saí da sala e fiquei pensando no motivo de tê-la dito. Às vezes, parece que o mundo vai cair em nossa cabeça. Outras, todos estão com os olhos pregados em nós. E tudo não passa de ilusões, nada disso está acontecendo. A relação entre o eu e o mundo é complicada, ou melhor, muitas vezes nós a complicamos.

Daí todo aparato de livros e ensinamentos de como harmonizar-se com o universo. Levantar-se e dizer que aquele dia será o melhor é uma forma mágica de descomplicar-se, ver o mundo por cima, como se fosse leopardo em vez de gatinho. Não sou pelo falso otimismo, mas a pessoa precisa de, pelo menos, igualar-se ao mundo para enfrentá-lo.

Talvez eu tenha dito à colega aquela frase optativa por que estamos vivendo em clima de olimpíada. O atleta define sua vida em segundos depois de se preparar por anos. Assim também vejo a campanha eleitoral que ora vivemos: muitos sonhos, projetos passam pela telinha no programa eleitoral, mas poucos conseguirão realizá-lo. A Justiça Eleitoral devia reprisar, depois das apurações, os programas políticos na tevê aos telespectadores... Seria muito bom, uma lição de vida e cidadania com muito humor.

As olimpíadas e as eleições se repetem a cada quatro anos, mas as competições da vida se dão num contínuo interminável, e cada um não quer que ela termine. As forças até terminaram, mas a pessoa não se entrega. Morrer em paz é harmonizar-se com o universo.

O Consa viveu parte de sua vida achando que ia consertar o mundo, por isso vomitava babaquices. Hoje, tenho certeza de que o mundo me consertou, vivo um otimismo cético: como nada espero, tenho o cêntuplo. Idealismo é para quem quer que o mundo se encaixe em seus modelos mentais.

Às vezes, algum leitor diz que este croniqueiro quer que a honestidade tome conta do mundo, só porque na coluna “Ponto Cego” denuncio algumas falcatruas. Não sou moralista, mas não sou corrupto ainda, fico na minha, na posição em que me sinto bem. Somos todos fdp, a única coisa discutível é saber quem é o mais fdp, estabelecer a graduação.

Lemos na Bíblia que os últimos serão os primeiros, atire a primeira pedra quem nunca pecou na vida, não é possível tirar um cisco do olho alheio se se tiver uma trave na vista. Só fui entender bem tais ensinamentos quando perdi a arrogância dos salvos, então, passei a ver o mundo ao rés do chão. Quanto aconteceu isso, virei croniqueiro, a vida passou a sorrir pra mim.

Um comentário:

Anônimo disse...

Boa-noite, professor!
...e que a vida lhe sorria cada vez mais.
Parabéns mais uma vez,professor.