AGENDA CULTURAL

2.11.11

Festa da melancia


Hélio Consolaro

Amanhã vou comprar melancia na frente do cemitério, senão não é Dia de Finados, caramba! Com certeza, encontrarei placas com erros de acentuação e de concordância: “Melância – 2 real cada”.
Aquele fruto rotundo é mais difícil de ser carregado que uma criança amuada, uma verdadeira mala sem alça. Se deixar o carro meio longe, caro leitor, a luta será grande. Jogará a melancia para um lado do corpo, braço direito; depois do outro, braço esquerdo... Até chegar.

Mesmo no carro, o obeso ser é difícil de ser carregado. Rola no banco, se cair, trinca. No porta-malas, rola para lá e para cá, fazendo aquele barulhão.

Já carreguei melancia favorita, aquele monstruoso fruto, em bagageiro de bicicleta, quando não havia elástico com gancho em cada ponta, apenas amarrada em cordinhas. 
   
Ao chegar em casa, não a cortarei em fatias nem a colocarei na geladeira. Partirei a melancia no ladrilho da área, batendo, como se fazia na roça.  Partida, meterei a boca naqueles pedaços irregulares e grunhirei, imitando meus primitivos ancestrais.

A melancia é fruto próprio de porta de cemitério, pois nos faz lembrar nossa condição humana. Ela, como nosso corpo, só tem água, e somos frágeis também, não podemos levar um tombo que nos rachamos todo. 

Muitas pessoas que visitaram o cemitério e compraram melancia no ano passado, hoje, recebem flores, velas e lágrimas ao pé do túmulo. Se você encontrar dois velhinhos no cemitério e ouvir deles esta conversa, não estranhe:

- Será que estamos chupando melancia no ano que vem, compadre?

- Claro! Ainda tenho um caminhão de melancia pra chupar!

E você, caro leitor, estará no Finados de 2012 chupando melancia?

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura - Araçatuba-SP

3 comentários:

Unknown disse...

kkkkk Adorei!!!Muito bom...

Patrícia Bracale disse...

Na dúvida vou comer o ano inteiro...

Juliana disse...

Eu sou de uma cidade em que se vende melancia na porta do cemitério... Mas as pessoas na capital não acreditam que se vende melancia na porta do cemitério... hahaha... Adorei sua analogia