Não é apenas a classe média que pedala, muito menos a região central é a mais frequentada, e 70% usam a bicicleta para ir ao trabalho 5 vezes por semana.
Quando a classe média adere a algum procedimento dos pobres, ela muda o nome para ficar mais chique, lembre-se: marmitex é o nome chique da velha marmita do boia-fria.
Assim aconteceu com a bicicleta. Para os pobres, que é um meio de transporte, ela é chamada de magrela, trole. Seu usuário: biclicleteiro. Quando a classe média passeia de bicicleta em fins de semana, chama-se "bike", seu usuário: ciclista.
Araçatuba foi chamada a "cidade das bicicletas". Este blogueiro já andou quilômetros e quilômetros nas ruas dessa cidade com magrela, fazendo cobrança, indo para o serviço. O famoso office boy. (Hélio Consolaro)
Mariana Serafini
Uma pesquisa apresentada recentemente pela Ciclocidade
(Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo) mostra o perfil de quem pedala
na capital paulista e desconstrói os estereótipos de que a bicicleta é só para
fim de semana, usada apenas nas regiões centrais e por pessoas de classe média.
O estudo revelou que a maioria usa o meio de transporte para trabalhar até
cinco vezes por semana e mais de 40% recebe apenas dois salários mínimos.
Para levantar os dados, a Ciclocidade contou com a ajuda da
ONG Transporte Ativo e do Observatório das Metrópoles. Mais de 1800
questionários foram aplicados em três recortes regionais: centro, intermediário
e periferia. Pontos com e sem infraestrutura foram contemplados no estudo.
Um dos mitos que muito se vê propagar é de que precisa
existir o ciclista para então pensar na infraestrutura. A ciclovia da Avenida
Paulista é a prova de que, na verdade, esta lógica deve ser invertida. Isso
porque, desde que a ciclovia foi inaugurada, em junho deste ano, o número de
ciclistas neste trecho aumentou 116%. O estudo mostra ainda que as ciclovias
impulsionaram o uso da bicicleta em toda a região central, 40% dos ciclistas
desta área pedalam faz menos de seis meses.
A pesquisa também derruba a ideia de que a bicicleta é usada
apenas para trajetos curtos. O estudo constatou que 62% pedala mais de 5
quilômetros por dia e 70% usam a bicicleta até cinco vezes por semana, muitas
destas para ir ao trabalho. Os entrevistados afirmaram que a principal demanda
é ampliar a malha cicloviária e interligar trechos, a pavimentação das vias é a
segunda maior preocupação de quem pedala.
Não é apenas a classe média que pedala, muito menos a região
central é a mais frequentada por bicicletas. O estudo que 40% dos ciclistas
urbanos recebem até 2 salários mínimos e 80% de quem sente falta de mais
ciclovias estão nas periferias da capital. Não à toa existe o movimento
“Ciclovia na periferia”.
Em entrevista ao Bike é Legal, o diretor da Ciclocidade,
Daniel Guth, explicou que o objetivo da ONG é contribuir para ampliar o acesso
cada vez com mais segurança. “Com estes dados o poder público vai poder
planejar muito melhor as políticas públicas para quem usa bicicleta em São
Paulo, compreendendo a diversidade e as nuances que se têm, através de diversos
recortes”, disse.
Mulheres pedalam?
Nesta pesquisa a Ciclocidade não se debruçou na questão de
gênero. No entanto, a ONG realiza monitoramentos constantes e mostra que a
bicicleta é um veículo usado majoritariamente por homens. Apenas 6% do total de
ciclistas são mulheres. Porém, elas usam a bicicleta também para longos
trajetos e na maioria das vezes 5 dias por semana. A maior parte das
entrevistadas considera vias exclusivas para bicicletas importantes.
A Ciclocidade conta com grupos de trabalho que estudam a
questão e buscam desenvolver ações para fomentar o uso da bicicleta também
entre as mulheres.
Outra iniciativa interessante é o “Saia na Noite”, um grupo
criado há mais de 20 anos que promove encontros semanais de mulheres que saem
juntas para pedalar pela cidade, obviamente, à noite. As responsáveis pela
iniciativa comemoram os resultados do trabalho e se orgulham ao dizer que hoje
em dia “saias ao vento e sobre duas rodas” são vistas com normalidade pela
sociedade.
Créditos da foto: Mariana Serafini
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