Hélio Consolaro*
Tenho medo de não ter mais cartão de crédito. Sou de uma
geração de um capitalismo brasileiro muito tacanho, cartorial, em que os capitalistas e o governo
se autoprotegiam em detrimento do público, contra o povo.
No início da década de 90, como professor, eu queria ter um
cartão de crédito. Preenchi o formulário e a direção da instituição financeira respondeu, pelo correio, que eu não tinha renda para tanto. Apenas os ricos possuíam a prerrogativa do
cartão de crédito.
Vivi mais de uma década com carro velho, porque não se
financiava carro em muitas prestaçõe. No máximo, três meses. O ciclomotor, a
famosa Mobylette, era a condução da grande maioria.
Então, meu jovem, já pensou viver sob uma inflação de quase 90% ao
mês. Comprar algo agora por R$10,00 e o no mês vindouro pagar a mesma
mercadoria por R$ 19,00.
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E de repente, o Governo Collor, confiscou todas as aplicações financeiras e a poupança de todos os brasileiros. Todos dormiram com um
saldo bancário e acordaram com saldo zero noutro dia.
Por isso, desarranjar o país, querer bagunçar o coreto deixa os mais velhos com os nervos à flor da pele, porque sofremos os desarranjos na carne.
O maior benefício que o capitalismo financeiro pode
promover, agindo com modernidade, é democratizar o crédito. Se há quem se lambuze,
se endividando mais do que devia, o problema é dele, pois cada um precisa cuidar
de suas economias.
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Quem começou a entender o crédito como a parte boa do
capitalismo financeiro foi Fernando Henrique Cardoso (PSDB), mas quem mergulhou
de cabeça, promovendo inclusive o financiamento imobiliário foi o Presidente
Lula (PT).
Não quero voltar ao capitalismo cartorialista do PMDB, à época do Sarney (PMDB), não quero ressuscitar
o governo Itamar (PMDB – sucessor de Collor). Tenho medo do governo Temer (outro
PMDB). Peemedebista só gosta de criar cargos e empregar apaniguados, não toma as atitudes necessárias. Exemplo: Plano Cruzado da época do Sarney.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro
da Academia Araçatubense de Letras.
Um comentário:
O que me deixa desesperado é o fato de ser um socialista que reconhece o que o capitalismo tem de bom e aceito, democraticamente, que vivemos em um país capitalista e então temos que aplicar da forma mais justa possível as regras do jogo e, infelizmente, estamos assistindo o país mergulhar numa forma de capitalismo selvagem que pensávamos haver sido superada. E o pior de tudo é ver que os maiores prejudicados com este retrocesso estão a bater palmas, como que comemorando a "mudanca". Vamos perder muito mais que os cartões de crédito.
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