AGENDA CULTURAL

12.3.17

Preta Gil: mulher empoderada

Em entrevista , cantora falou também sobre maternidade: "Se Deus me permitir ser mãe novamente, eu serei uma mãe bem bacana".

Laís Gomes Do EGO, no Rio 

Preta Gil  (Foto: Marcos Ferreira / Ego)Preta Gil (Foto: Marcos Ferreira / Ego)
Dia Internacional da Mulher (Foto: EGO)








Preta GPreta Giil sempre foi uma mulher à frente do seu tempo. Quando expressões como "feminismo" e "empoderamento" ainda não estavam tão em voga, ela já fazia seu trabalho de forminguinha nas entrevistas que dava, nas músicas que cantava e na forma como sempre se posicionou.
Aprendi que muito do que foi direcionado a mim não era exatamente pra mim, era para a mulher, era para as gordinhas, para as mulheres que se mostram independentes, que assumiram seus sentimentos, seus desejos, sua posição." Preta Gil
Filha de Gilberto Gil, ela herdou do pai o sobrenome, a veia artística e o jeito leve de ver a vida. Foi mãe de Francisco aos 21, decidiu cantar profissionalmente aos 30 e casar novamente, aos 40. Aos 42 e com uma carreira consolidada, ainda sonha com muitas conquistas profissionais e pessoais, entre elas, ser mãe novamente. Dona de si, de uma personalidade forte e de um carisma único, Preta sempre deu a cara a tapa e bancou todas as suas decisões. Levou (e leva) algumas pedradas no caminho, mas não se arrepende de nada que tenha feito na vida. "Se fiz é porque tinha verdade, e verdade é valor para mim. Aprendi que muito do que foi direcionado a mim não era exatamente pra mim. Com o tempo eu aprendi a conviver com a crítica e preconceito e também cresci a partir disso", conta ela, a terceira entrevistada da série "Mulheres Empoderadas" - em homenagem ao Dia Internacional da Mulher -, produzida pelo EGO.
Preta Gil (Foto: Marcos Ferreira / Ego)Preta Gil (Foto: Marcos Ferreira / Ego)
Pergunta: Você sempre foi uma mulher revolucionária. Aprendeu a ser uma mulher mais forte no amor ou na dor?
Resposta: No amor e na dor, a vida é a grande escola que nos ensina a cada queda, a cada vitória. Não me arrependo de nada que tenha feito e se fiz é porque tinha verdade, e verdade é valor para mim. Aprendi que muito do que foi direcionado a mim não era exatamente pra mim, era para a mulher, era para as gordinhas, era para as mulheres que se mostram independentes, era para as mulheres que assumiram seus sentimentos, seus desejos, sua posição. Com o tempo eu aprendi a conviver com a crítica e preconceito e também cresci a partir disso. Fui a luta, em busca de meus sonhos, fiz grandes amigos, tive grandes conquistas mas tudo isso veio da minha percepção de que eu deveria não me aceitar sendo como eu sou independente dos outros, bem como não baixar a cabeça a quem de alguma forma se incomoda com a minha liberdade e a minha felicidade. 
P. O que a Preta de 42 anos diria para a Preta de 24?
Fique firme, as coisas boas estão reservadas, mantenha-se fiel aquilo que acredita, não seja ansiosa, dê um passo após o outro, trabalhe, lute pelos seu sonhos.
P. Você lutava pelo feminismo, pela quebra de padrões quando muita gente fazia o contrário. Foi criticada por isso?
Pois é, isso não tinha um nome, mas sempre existiram mulheres que foram à luta mesmo em um mundo machista. Cientistas, políticas, atletas, executivas, artistas... são muitas as mulheres que são pilares da sociedade e que lutaram por seus direitos como cidadãs. A novidade é que as mulheres estão se unindo, estão certas de que não são - e realmente não são -, escravas de um modelo ultrapassado em que olham para a mulher como objeto de prazer ou exploração do ponto de vista masculino. Fico feliz ao observar esse despertar de consciência que aos poucos toma forma no inconsciente coletivo. O jogo não está ganho, há muito que evoluir e parte dessa evolução é a necessária união das mulheres, que é a única forma desse movimento existir e transformar a sociedade.
Preta Gil (Foto: Marcos Ferreira / Ego)Preta Gil (Foto: Marcos Ferreira / Ego)
P. Existem comentários muito maldosos sobre sua relação com o Rodrigo. E a maioria vem de mulheres. Ao que você acha que se dá essa 'guerra' das mulheres, essa mania de mulher falar mal de outra mulher?
R. O desamor e a desunião são os verdadeiros venenos de nossa sociedade moderna , não importa o gênero. O ódio está em toda parte e devemos nos policiar quase que diariamente a não aceitar a dor, o medo, preconceito e a violência como algo normal. A mulher que julga a outra, aponta a celulite na outra, que dissemina a fofoca. A maldade é uma mulher que está fadada a ficar só, a não ser respeitada. Se xingamos a nossa mãe, se julgamos a nossa irmã, se falamos mal da nossa vizinha estamos fazendo isso com nós mesmas. Precisamos nos unir, precisamos nos mostrar fortes, capazes, precisamos amar ao próximo e a 'próxima'. Esse mundo precisa de amor e amor é a própria essência do aspecto feminino e maternal que está em nós, e inclusive nos homens.
P. Você acha que se tiver filhos hoje vai ser uma mãe melhor que há 20 anos?
R. Não sei se melhor, mas certamente seria uma mãe mais experiente, diferente da que fui. Uma mãe que já é avó tem o dobro de chance de ser a melhor mãe do mundo. A vida nos ensina a cada dia e nosso caminho é progredir, é ir além, olhar pra frente. Se Deus me permitir ser mãe novamente, eu serei uma mãe bem bacana.
Não podemos tolerar injustiça e preconceito de qualquer espécie, seja com quem for. Espero que nossa sociedade descubra o valor do amor que se perdeu. Amor não tem sexo, não cobra, não explora."
Preta Gil
P. Como faz para lidar com tantas atividades e obrigações?
R. Não sou diferente de qualquer mulher que vai à luta. Consigo se eu  nem não pensar que tenho que fazer isso tudo, sou como um jogador em campo, se a bola cair no meu pé, quero fazer o gol. Estou "em campo" por que sonhei um dia estar onde estou, minha vida é o meu trabalho e eu o encaro de frente. Vivo um dia após o outro, dou o melhor de mim e acredito que quando a gente faz o que gosta e tem amor envolvido, a satisfação é bem maior que a insatisfação. Amo meu trabalho, meus fãs, minha família e sempre estarei pronta para orgulhar a todos, mas antes de tudo a mim mesma. Gosto da sensação de estar inteira em cada coisa que faço.
P. Como você vê a importância do feminismo no Brasil a longo prazo?
R. Olha, eu acho que devemos lutar pelo que acreditamos ter importância. O equilíbrio é saudável, a igualdade é necessária para uma sociedade justa .O ser humano tem a obrigação de ser feliz e fazer feliz, independente do gênero. Não haveria uma sociedade sem os homens ou sem as mulheres, nada é somente uma coisa ou outra. Existe a luz, a escuridão, a penumbra e o clarão. Há sempre o caminho do meio, há sempre maneiras de dialogar e evoluir. Não podemos tolerar injustiça e preconceito de qualquer espécie, seja com quem for. Espero que nossa sociedade descubra o valor do amor que se perdeu. Amor não tem sexo, não cobra, não explora. Se amarmos a nós mesmos e ao próximo a união de propósitos florescerá.
Preta Gil  (Foto: Marcos Ferreira / Ego)Preta Gil (Foto: Marcos Ferreira / Ego)

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