AGENDA CULTURAL

28.3.21

Grudar na vida

 


Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Araçatuba-SP

Nessa ameaça constante da morte durante a pandemia, o único jeito de continuar a caminhada é grudar na vida. Em qualquer época, com ou sem coronavírus, quem não encontrar força para viver, acaba cometendo atitudes tresloucadas ou no suicídio.  

Confesso-me um sujeito otimista, cheio de explicações para continuar grudado na vida. Meu discurso me satisfaz. Devido à idade,  não tenho muita coisa para realizar, mas acordo todos os dias animado: estou vivo. Não desejo chegar à blasfêmia: Deus se esqueceu de mim, quero morrer. 

Acredito no criador e não uso o nome dele em vão. Aliás, acho que ele é meu amigo, tenho longas conversas com minha voz de dentro. Apenas digo-lhe: "Seja feita a sua vontade. Sou seu servo". Entre mim e ele, não há um balcão para fazermos negócios: prometo isso, você me dá aquilo. O Movimento dos Focolares e a Teologia da Libertação me ensinaram a me relacionar bem com o divino.

Escrevo isso porque não me conformo ver a pessoa contaminada com o coronavírus e tentar conscientemente contaminar os outros também. Cuspindo em supermercado, passando saliva em carros, frequentando aglomerações. Como a vida dela está ameaçada, quer fazer o mesmo com as outras pessoas.

Por que nasci? Qual é a minha importância para o universo... Que lugar ocupo na sociedade? São respostas básicas para ser um cidadão do mundo. Do contrário, como ser pensante, não sou protagonista de minha própria narrativa, apenas sou um barco à deriva, sem rumo nas águas da vida. 

Nessa falta de rumo, ausência de uma interpretação para a vida, qualquer ameaça deixa a pessoa transtornada, desde matar a outra, querer distribuir a sua desgraça para todos ou cometer o suicídio. Vade retro satana! Não quero isso para mim.

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