AGENDA CULTURAL

4.4.21

Quiabada de Páscoa - Antônio Reis


Já que nenhum coelho veio me visitar, no domingo de Páscoa comi quiabo. O dia amanhecera lindo, com um sol alegre, temperatura amena e céu infinitamente azul. Como nem tudo nessa vida se resume ao belo e ao agradável, sou impelido à feira da semana, pois coelho nenhum ou outro animal fará isso por mim.

A caminho do supermercado decido que um dia tão especial merece uma refeição que fuja do cardápio que há três anos me fora recomendado, com zelo e exclusividade, por competente nutricionista. Sair da rotina abandonando por um dia a batata doce e a carne grelhada também deve ser saudável para o corpo, pois o astral, com domingo tão agradável, vai muito bem obrigado.

Na feirinha do mercado, enquanto matutava no que poderia ser o cardápio da ressurreição, deparo-me como ele. Sim, aquele alimentozinho caboclo, presente nas mesas mais modestas, de sabor indefinido, que exibe sua liga, como o queijo da pizza, quando o garfo o espeta no prato para levá-lo à boca. Quiabo. Prazer, há quanto tempo!

Desconheço quiabo gourmet, mas na culinária mineira o seu picadinho é muito apreciado na caldeirada com frango caipira. Há também quem goste do refogado com carne moída, nacos de tomate despelado e sem sementes. Na salada, cortado em pedaços maiores, substitui a vagem com o benefício de custar menos ao bolso. Porém, fatiado em lascas fritas é um baita aperitivo para acompanhar cerveja gelada enquanto se prepara alguma opção anterior.

Além das tradicionais receitas, há também dicas de como evitar, ou reduzir ao máximo, a baba do quiabo. Lavá-lo com bucha e sabão, enxugá-lo com pano seco hora antes do preparo. Evitar mexê-lo muito durante o cozimento. Colherada de vinagre no momento do refogado e por aí vai... Pura bobagem, pois quiabo sem baba é igual a chope sem colarinho: não tem graça.

Embora poucos saibam, até meados dos anos 1990 Araçatuba era a capital nacional do quiabo, por ser a maior produtora.  A cidade perdeu este status quando da emancipação de Santo Antônio do Aracanguá, que amealhou grande parte da área plantada com os frutos de origem etíope.

Quiabo não é manjar dos deuses e nem papo de anjo. Entretanto, nos leva ao céu que temos dentro da boca.  A quiabada de Páscoa obrigou-me a emprestar os versos do compositor baiano: “Quem não gosta de quiabo bom sujeito não é”.

(*) Antônio Reis é jornalista e ativista do Grupo Experimental da ALL.

Um comentário:

Patrícia Bracale disse...

Quiabo com alho
Palavras com sabor
Alimenta o corpo e a alma.