Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP Alain Delon: antes e depois
Morreu o príncipe encantado do cinema, o ator francês Alain Delon. Nos tempos áureos do cinema, ele me deixava com complexo de inferioridade. Minha namorada, na poltrona ao lado do cinema, respirava pelo galã da tela, quando numa ligeira olhada, durante o filme, ela me espiava com o canto do olho, via aquele rapazinho feio, espinhento. Que desgosto! Mas era o que havia para o momento. Ela conseguiu só aquilo, estava contente. Agora, na velhice, emparelhamos. Alain Delon enfeou-se e eu, com a caridade divina, fiquei mais bonito, pois a velhice desperta a caridade dos olhos.
Alain Delon era para ser açougueiro, mas o destino o quis ator. Então, chega-se à conclusão de que há muita gente bonita no seio da pobreza, faltou-lhes oportunidade para mostrar a sua beleza na tela ou na telinha. E esse desencontro é eterno na história da humanidade capitalista.
Quando vejo uma menina pobre namorando um feio e ainda pobre, fico consternado, ninguém para lhe dizer que há um desperdício, que ela pode tentar um homem melhor no mercado da beleza.
Meu mano Gervásio dizia que a gente pode até namorar uma mulher velha (e a gente velho também), mas que ela tenha sido bonita na juventude. Filosofia malandra.
Esse jogo juventude-velhice tira a alegria de muita gente, mas ninguém, dizia minha avó, fica sem a sua tampa, não há caldeirão sem tampa. É só procurar, ou melhor, é só paquerar.
E para consolo geral, beleza não se põe na mesa, e o que é belo hoje, poderá ser feio amanhã. O conceito de beleza é relativo, depende de cada época.
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